A celebração à Bom Jesus dos Navegantes ocorre no município de Luís Correia no Piauí; remonta ao século XIX, quando pescadores teriam encontrado no mar, no dia 29 de junho, quando se celebra à São Pedro, protetor dos pescadores, a imagem de Bom Jesus dos Navegantes. Desde então, muitas pessoas, principalmente pescadores, passaram a fazer promessas a Bom Jesus, rogando por proteção e saúde. Os ritos religiosos e os espaços sagrados se apresentam, em sua grande maioria, indissociáveis da trajetória histórica, cultural e social das cidades aos quais pertencem, representando parte da memória individual e coletiva de seus habitantes. Ao considerarmos a Museologia Social como “um fazer museológico”, comprometido com as comunidades a que serve, realizamos uma das fases daquele fazer – a documentação do patrimônio cultural, nomeadamente o patrimônio imaterial – desta celebração. Para registro e documentação tomamos como referência o Manual de Aplicação, um conjunto de instrumentos de pesquisa que orienta o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) disponibilizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A importância deste trabalho está em construir fontes de informação, documentação e comunicação de celebrações. Além do inventário, materializado em documentação textual, fotográfica, produzimos o documentário “A Fé que abraça a Barca”. Os registros textuais, sonoros, fotográficos e audiovisuais, permitem o conhecimento e reconhecimento da celebração como uma manifestação cultural ancestral, um patrimônio cultural religioso da Área de Proteção Ambiental APA Delta do Parnaíba, habitada por populações que vivem da pesca artesanal. Neste trabalho, oferecemos a nossa contribuição para o registro e salvaguarda de formas de religiosidade e espiritualidade; contribuímos para a democratização e o fortalecimento de identidades locais, para a valorização, promoção e salvaguarda de memórias e histórias, para comunicar, dar a ver celebrações, suas permanências, suas rupturas. Além do Manual de Aplicação (INRC / IPHAN), nos valemos de procedimentos metodológicos como a pesquisa-ação, a história oral e etnografia. Ao longo do ano de 2016 e 2017, estivemos imersos no cotidiano de comunidades praieiras, sobretudo na cidade de Luís Correia e Bairro do Coqueiro da Praia, em um trabalho de coleta de dados, entrevistas temáticas, registros sonoros, fotográficos, audiovisuais.