O objetivo desta pesquisa-ação foi construir um inventário participativo da celebração de Bom Jesus dos Passos, que ocorre no sertão do Piauí desde o início do século XIX, na cidade de Oeiras, primeira capital do Piauí. Os rituais da celebração fazem parte da liturgia da Semana Santa, iniciam ainda na quinta-feira da semana anterior à Santa, com a Procissão da Fugida, com a saída em procissão da imagem do Bom Jesus da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Vitória em direção à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, onde permanece por toda a noite. No dia seguinte, às quatro horas da tarde, em uma via sacra em estilo português, a imagem segue em procissão, são mais de 30 mil pessoas, em oração, algumas vestidas em roxo ou a carregarem ex-votos, a percorrerem as ruas estreitas da antiga e bem preservada cidade colonial. Os ritos são atravessados por símbolos, sentidos e significados; a cor roxa das vestes das imagens do Bom Jesus dos Passos, Nossa Senhora, romeiros, muitos dos quais pagadores de promessas. Os cantos da liturgia são um híbrido do erudito e popular, os personagens bíblicos são apresentados de forma teatral pelos cuidadores envolvidos na tradição secular, assim como nos objetos sacros em prata e madeira. São mais de vinte e quatro horas de intensos ritos, que incluem orações, penitências, manifestações de fé, que fazem desta celebração uma das mais emblemáticas do Piauí. Neste trabalho, os procedimentos metodológicos constaram de ações teóricas e práticas, na concepção de um inventário de natureza participativa como proposto por Hugues de Varine, bem como pelo Manual de Aplicação do Inventário Nacional de Referências Culturais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, técnica de pesquisa para produzir conhecimento sobre os domínios da vida social aos quais são atribuídos sentidos e valores e que, portanto, constituem marcos e referências de identidade para determinado grupo social; técnicas que se associam à história oral e etnografia, o que inclui a imersão do pesquisador na comunidade, coleta de dados, entrevistas temáticas, registros em áudio, vídeo e fotografias. Assim buscamos ao logo da pesquisa documentar para salvaguardar a celebração como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, o reconhecimento desse patrimônio como acervo cultural não apenas local, mas nacional. Como resultados, produtos e serviços, associados a este trabalho construímos um livro inventário, bem como um documentário sobre o processo participativo que nomeamos de InventárioDoc, que revelam a diversidade de pessoas envolvidas na celebração como cuidadoras das imagens, dos passos, capelas situadas no Centro Histórico, rezadeiras, promesseiros, representantes do clero e jovens de diversos bairros e comunidades rurais da cidade de Oeiras e entorno.