O curso de formação "Inventário do uso de agrotóxicos no sul do Piauí e efeitos à saúde e ambiente nas comunidades camponesas" foi realizado no período de 8 a 11 de fevereiro de 2022, de forma virtual (Google Meet), com carga horária de 20 horas (atividades síncronas e assíncronas) e contou com a colaboração e participação de estudantes e professores da UFPI (principalmente da LEDOC de Bom Jesus), sujeitos sociais de comunidades camponesas do sul do Piauí, principalmente do Assentamento Formosa, município de Redenção/PI (espaço de atuação do projeto cuja ação de extensão é vinculada), além de profissional do Colégio Técnico de Bom Jesus/UFPI (CTBJ) e integrantes da  Escola Família Agrícola Vale do Gurgueia (EFAVAG) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

O curso integrou as atividades do projeto de extensão “Uso de agrotóxicos, agroecologia e organicidade camponesa no sul do Piauí”, desenvolvido pelo curso de Licenciatura em Educação do Campo/Ciências Humanas e Sociais (LEDOC), do CPCE, em parceria com o Núcleo de Agroecologia e Arte do Vale do Gurgueia (NAGU) e o Núcleo de Pesquisa e Estudos das Comunidades Camponesas (NUPESCC).

Considerando a indissociabilidade entre o ensino, a extensão e a pesquisa, o curso ofertou aprendizados de caráter teórico-prático, por meio de metodologias participativas, tais como rodas de conversas e debates, utilizando diferentes recursos de ensino nos processos de produção coletiva de conhecimentos, como vídeos, músicas, cordéis, mapas e gráficos. O uso de múltiplas linguagens na abordagem dos temas possibilitou trabalhar os conteúdos em diferentes níveis de complexidade, dinamizando a integração do grupo e o engajamento nos debates.

A princípio, os integrantes do projeto de extensão (coordenadoras, bolsistas, voluntários e colaboradores) realizaram um levantamento (inventário), a partir de relato de casos de indícios de intoxicações por agrotóxicos à saúde humana e ambiental no sul do Piauí (de forma assíncrona). O referido levantamento foi ampliado a partir dos relatos dos sujeitos sociais durante a realização da ação de extensão, principalmente no intercâmbio de territórios (de forma síncrona). Essas problemáticas vinculadas ao tema dos agrotóxicos foram devidamente discutidas, a partir de resultados de pesquisas científicas realizadas por diferentes universidades brasileiras.

Como continuidade, refletindo sobre o contexto complexo da expansão da modernização da agricultura no cerrado piauiense no âmbito da questão agrária, o curso encerrou suas atividades com a exposição de diferentes alternativas de produção vinculadas à agroecológica, entendida a partir da relação intrínseca entre suas diferentes dimensões e abordagens, tomando como referência a tríade: ciência, prática e movimento (WEZEL, et al., 2009).

Desse modo, o curso foi finalizado de forma propositiva, partindo dessa concepção, visão social de mundo e escolha teórico-metodológica, por meio do debate de estudos científicos, em diálogo com as práticas camponesas e com os movimentos voltadas ao campo, como EFAVAG, CPT, Movimento dos Pequenos Agricultores-MPA, dentre outros presentes na referida ação de extensão.

Do ponto de vista avaliativo, os participantes consideraram a atividade bastante positiva, destacando os novos aprendizados, a conscientização para com os riscos do uso de agrotóxicos em relação à saúde humana e ambiental, no contexto da questão agrária, bem como sobre a importância de potencializarem as práticas agroecológicas, momento oportuno em que também apresentaram algumas de suas experiências, como base em técnicas simples. Dentre as falas dos participantes podemos citar:

Foi um enorme prazer participar dessa belíssima formação, foram vários relatos muito importantes para nós refletirmos bastante sobre a realidade em que estamos vivenciando no decorrer do tempo. E como mencionei anteriormente a união faz a força e temos que nos unir mais ainda para que a nossa futura geração possa ter uma vida melhor do que a temos hoje (ESTUDANTE DA LEDOC/UFPI).

As práticas agroecológicas nos oferecem pistas importantes para superação dessas crises que estão em curso" (ESTUDANTE DA LEDOC/UFPI).

Esses 4 dias de FORMAÇÃO e tardes de saberes, foram muito ricos e será de uma grande importância na minha vida acadêmica e pessoal, muito obrigada a todos os formadores [...] por nos propiciar essa formação e sabedoria” (ESTUDANTES DA LEDOC/UFPI).

A verdade é que a maioria de nós mesmos, sendo filhos de agricultores, criados no campo, quando chegamos na universidade, ainda desconhecemos diversas coisas que deveriam ter sido ensinadas e colocadas para que pudéssemos refletir desde o início da nossa trajetória educacional” (ESTUDANTE DA LEDOC/UFPI).

Parabéns a todos. Proveitoso curso de formação, muitos conhecimentos compartilhados sobre a agroecologia. Nos faz repensar e buscar melhorar nossas relações com a natureza e práticas agroecológicas. Grato, aprendi muito (INTEGRANTE DA ESCOLA FAMÍLIA AGRÍCOLA - CRISTINO CASTRO/PI).

O pouco que a gente tem, eu faço tudo que o professor falou [...] Eu uso esterco [...] E numa pequena horta que tenho, esses dias eu descobri sem querer, que a água que você tira do azeite de buriti é um ótimo fertilizante [natural] para mosca no nosso pimentão[...] Foi muito rico passar esses quatro dias [...] (CAMPONESA DA COMUNIDADE FORMOSA, REDENÇÃO/PI).

Eu moro aqui na comunidade há 11 anos. Agradecer por nos convidar para a formação. E dizer que nesses dias, no curso, foi muito bom pra nós. Aprendemos muitas coisas, sobre os agrotóxicos e também falar um pouco o que eu produzo na minha propriedade. Hoje em dia a gente tá mais plantando o feijão. E o feijão, de uns dois anos pra cá, a gente descobriu também que para matar a mosca do feijão, a gente tá usando o nim, que nem o professor falou [...] A gente cozinha, coloca na bomba e pulveriza nos pés de feijão. Aí a gente descobriu que pode dá um fim na mosca do feijão, usando essa técnica simples [...] Quero agradecer a todos (CAMPONESA DA COMUNIDADE FORMOSA, REDENÇÃO/PI).

Percebeu-se que o curso de formação realizado atingiu os objetivos e metas propostos, superando as expectativas em relação ao número de participantes e em termos de aprendizados gerados, como mostram as falas citadas, demonstrando a relevância da extensão no sentido de atenuar a demanda de processos educativos, de informação e formação nas comunidades camponesas, corroborando, assim, para atender a função social da Universidade.

Referências

WEZEL, A., BELLON, S., DORÉ, T. et al. Agroecology as a science, a movement and a practice. A review. Agron. Sustain. Dev. 29, 503–515, 2009.

Figura 1 – Ação de extensão (08/02/2022)

Fonte: registro de tela (Google Meet)

Matéria: Professoras Bernadete e Sheila