A disciplina Música Popular Brasileira e Encontro de Gerações, por mim ministrada no Programa Terceira Idade em Ação (PTIA) da Universidade Federal do Piauí, fez uma viagem musical ao ano de 1979 para ouvir a bela voz de Emílio Santiago no disco “O Canto Crescente de Emílio Santiago”. No repertório, pérolas musicais de Nelson Cavaquinho, Francis Hime, Gonzaguinha, Cartola, Edu Lobo, Luiz Melodia e outros biscoitos finos musicais. Das letras analisadas no nosso encontro sonoro semanal, destaco “Homenagem ao Malandro”, de Chico Buarque. Considerando as diversas e específicas conjunturas da história política brasileira, selecionamos a citada canção para compor a trilha sonora do atual momento político nacional. O Brasil da operação lava-jato não é o mesmo de 35 anos atrás mas ainda persistem práticas políticas iníquias e condenáveis do ponto de vista ético. Da dimensão política da obra de Chico Buarque, na sua “Ópera do Malandro”, focalizamos um texto que desmascara o vale-tudo malandro dos sepulcros caiados de grife. A audição sonora está antenada com a crônica cotidiana de uma Belíndia brasileira que mostra a sua cara. O artista vai onde o povo está:
Eu fui fazer um samba
Em homenagem
À nata da malandragem
Que conheço de outros carnavais
Eu fui à Lapa e perdi a viagem
Que aquela tal malandragem não
Existe mais
Agora já não é normal
O que dá de malandro
Regular, profissional
Malandro com o aparato de
Malandro oficial
Malandro candidato a
Malandro federal
Malandro com retrato na
Coluna social
Malandro com contrato, com
Gravata e capital
Que nunca se dá mal
Mas o malandro pra valer,
Não espalha
Aposentou a navalha,
Tem mulher e filho e tralha e tal
Dizem as más línguas que ele
Até trabalha
Mora lá longe e chacoalha,
No trem da Central
(Segura, malandro!)