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PPGPP100 - ATIVIDADE PROGRAMADA I - Turma: 03 (2015.1)

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  • O TRABALHADOR QUE SALGA
  • 01/05/2015 23:50
  • Texto:

    O TRABALHADOR QUE SALGA: Sebastião Salgado é sal na terra. Ver na tela as fotografias de um aventureiro que se importa com as pessoas, é reforçar o crédito em uma humanidade que muitas vezes desaponta e decepciona. Um profissional da fotografia com um aguçado olhar antropossociológico sobre o homem em agonia. Um viajante exemplar para pesquisadores que querem desbravar um vasto mundo para mostrar as dores e as delícias de se viver na Terra. Serra Pelada, Nordeste brasileiro, Nigéria, Equador, Sahel, Kuwait, Etiópia e outros lugares foram fotografados pelas suas lentes descortinadoras de realidades nuas e cruas produzidas pelas iniquidades políticas brutais de homens ferozes, cruéis e terríveis. Fotos feitas por um filósofo das imagens. Uma criatura apaixonada pelo seu ofício e que politiza seus ousados e exigentes projetos. A visão do bicho homem rebenta das suas aventuras por territórios áridos e secos não por culpa de São Pedro mas da irresponsabilidade e descompromisso dos poderosos que lucram com a miséria dos deserdados. Um fotógrafo social que lança um olhar complexo e profundo sobre os vários contextos humanos (a fome, os trabalhadores, os campos de refugiados e as reservas florestais). Uma exposição visual indignada, feita por um homem especial na sua singular forma de ler a realidade humana. Textos fotográficos que precisariam ser lidos por todos os terráqueos, principalmente pelos individualistas e indiferentes. Uma empatia pela história dos homens (suas glórias e barbáries) construída por alguém que poderia expressar a seguinte afirmação: “nada do que é humano me é estranho”. Dos ais dolorosos humanos, o fotógrafo trabalhador amplia o ângulo das suas lentes e focaliza o outro lado do cenário, ou seja, o encanto das matas e paisagens ecológicas (“santuários”) ainda não devastados pela razão utilitária e imediatista dos predadores travestidos de gente. Entre tragédias reveladoras de que o inferno marca presença no aqui e agora, a câmera fotográfica de Sebastião Salgado mira os paraísos naturais ainda virgens. Uma velha tartaruga que pode ter visto Charles Darwin, nas suas genéticas incursões científicas, é estrela do colírio ofertado. Entrar em uma sala de cinema para ver O SAL DA TERRA, documentário de Juliano Ribeiro Salgado e Wim Wenders sobre a vida e o trabalho fotográfico de Sebastião Salgado, é experimentar múltiplos sentimentos e emoções mas acima de tudo é exercitar a capacidade que temos de extrair beleza e grandeza da feiura e pequenez que marcam as ambiguidades humanas. Entre as imagens esqueléticas de homens, mulheres e crianças mortas e o verdor de uma mata atlântica revitalizada, rebenta um luzeiro que só a arte consegue parir. Saímos do cinema com os olhos marejados mas revigorados por termos conhecido um pouco mais sobre quem é a pessoa que alicerça  fotografias tão iluminadoras. A sociedade do espetáculo dá uma trégua para o seu show de barbaridades e recebe uma pitada de sal que reacende a estranha mania de ter fé na vida.  



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