Como usar o cinema na sala de aula constitui um desafio didático-pedagógico para quem objetiva utilizar recursos humanísticos na educação médica. O uso de filmes na disciplina Tópicos em Sociologia da Saúde, ofertada para os alunos no primeiro semestre do curso de Enfermagem na Universidade Federal do Piauí, é um exercício que já se estende por 15 anos e está ancorado em um conjunto de referências teórico-metodológicas representadas pelos seguintes autores: Edgar Morin, Marcos Napolitano, Sérgio Telles, Pablo González Blasco, Gilles Lipovetsky, dentre outros. Rompendo muros disciplinares, exibimos a nossa sintonia com um pensamento complexo congruente com a ideia de que somos biopsicossociais e multidimensionais. O diálogo entre um Ingmar Bergman e um Michel Foucault apresenta profundidade, beleza e densidade ao saber. Vivemos no mundo e no tempo telânico, da tela global. Sintonizados com este contexto, objetivamos acessar a doença através da linguagem cinematográfica. Tal perspectiva metodológica está fundamentada em uma antropologia que promove o acesso à doença através do texto literário. Fonte de nossa pesquisa, o cinema ou o homem imaginário é veículo privilegiado, objeto não periférico. A narrativa fílmica é porta-voz de práticas discursivas, produções de sentido e participa da construção social da realidade.Aprender medicina através das obras cinematográficas e como ensinar a relação médico-paciente, usando filmes, estão entre os objetivos da nossa investida de pesquisadores. Diversas instituições de ensino superior, a nível de Brasil, e que estão voltadas para a formação dos futuros profissionais da saúde, têm apresentado as suas experiências pedagógicas mediadas pela linguagem cinematográfica. Os discentes fazem suas leituras dos textos fílmicos e respondem às seguintes perguntas: 1) Quais os temas que podem ser debatidos a partir da leitura do filme?; 2) Estabeleça uma ponte entre a realidade retratada no filme e a que você observa no seu cotidiano; 3) Que sentimentos e emoções foram despertados em você a partir da leitura do filme indicado; 4) Justifique a indicação do filme proposto para os alunos da área da saúde; 5) Quais as mensagens transmitidas pela obra vista? Tais questionamentos recebem respostas que apontam para a relevância de investirmos nas subjetividades humanas, em suas ambiguidades e contradições. O que é o humano é uma questão central para quem lida com a humanidade nas suas manifestações cotidianas. Os filmes veiculam mensagens artísticas e expressam representações sociais sobre os mais variados temas. No nosso caso particular, o foco é lançado sobre o processo saúde-doença. Os desdobramentos subjetivos do adoecer são representados através de personagens que vivem experiências com as mais variadas doenças. Câncer, Aids, Alzheimer e os transtornos mentais já receberam diversas representações fílmicas. O sociólogo vê o filme e trabalha no cinema. O impacto psicológico da sétima arte em nossa vida tem sensibilizado os sujeitos das diversas áreas do conhecimento. É o cinema como arte, prática social e problemático na discussão dos problemas da vida e da sociedade. Questões existenciais, sociológicas e filosóficas são projetadas nas telas. Cineastas filósofos embasam uma antropologia sociológica com uma singular estética. Psicologia, Sociologia e Psicanálise vão ao cinema. Ao combinar várias artes, a linguagem cinematográfica concretiza um meio educativo que potencializa a humanização do futuro profissional da saúde. Uma particular forma de ver um filme para além de um mero entretenimento.