As viagens musicais da disciplina “Música Popular Brasileira e Encontro de Gerações” foram ao ano de 1977 e pescaram uma pérola fonográfica chamada “Coração Selvagem”, título de um LP lançado pelo artista Belchior, um expressivo artista do “pessoal do Ceará”, uma tribo musical que fez a cabeça de muita gente nos anos 70. O evocado cantor/compositor frequentava as paradas de sucesso naquele momento histórico e deu um presente para Elis Regina. Faço alusão a um de seus maiores sucessos: “Como Nossos Pais”. O biscoito fino “Coração Selvagem” é uma das faixas do memorável disco e recebeu uma nova versão na voz de Ana Carolina. Um encontro sonoro intergeracional comprovador de que “os museus estão cheios de grandes novidades”. Outras preciosidades sonoras são ouvidas nas canções “Paralelas”, “Todo Sujo de Batom” e “Galos, Noites e Quintais”. Esta última também foi gravada pelo personalíssimo Jair Rodrigues. Poeta das praias líricas cearenses, Belchior era “Apenas Um Rapaz Latino-Americano” que musicou a “Divina Comédia Humana”. O “Medo de Avião” não impediu os seus vôos poéticos “De Primeira Grandeza”. Das velas do “Mucuripe”, revivo d(i)scobertas ao som do barulhinho bom da faixa “Galos, Noites e Quintais”:

Quando eu não tinha o olhar lacrimoso

Que hoje eu trago e tenho;

Quando adoçava o meu pranto e meu sono

No bagaço de cana do engenho,

Quando eu ganhava esse mundo de meu Deus,

Fazendo eu mesmo o meu caminho

Por entre as fileiras do milho verde

Que ondeia com saudade do verde marinho,

Eu era alegre como um rio,

Um bicho, um bando de pardais;

Como um galo quando a via,

Quando havia galos, noites e quintais

Mas veio o tempo negro e a força faz comigo

O mal que a força sempre faz.

Não sou feliz mas não sou mudo.

Hoje eu canto muito mais.