Vozes indignadas são sempre bem-vindas. O discurso profético, conforme fui orientado, é aquele que anuncia e denuncia. A atitude profética está distante de um significativo número de ditos cristãos que vivenciam suas religiosidades descolando a umbilical relação entre fé e política. O evangelho cristão chega a dizer que a fé sem obras é morta. Escrevo tal reflexão no dia dedicado a S. Estêvão, primeiro mártir da história eclesial cristã. Ele incomodou. Um cristão consciente é um sujeito indignado. Cristo foi morto por ter enfrentado os poderosos do seu tempo. Expulsou os vendilhões do templo e desmascarou os sepulcros caiados do seu tempo. Teologia é a da libertação. A corrupção é uma das saúvas brasileiras. Multifacetada e generalizada, vai da sala de aula aos parlamentos. Copiar trabalho ou plagiar da internet, pedindo socorro ao Sr. Google, é uma das suas facetas. Não estou aqui para fazer sermão. A motivação da minha escrita é o Papa Francisco. Ele é pop? Em 2015 ele lançou uma carta chamada MISERICORDIAE VULTUS – O ROSTO DA MISERICÓRDIA (BULA DE PROCLAMAÇÃO DO JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA). A corrupção é um dos temas abordados. Dentre os corruptos, destaco os nefastos ladrões dos cofres públicos. Violentos, genocidas e outros termos são adequados para adjetivá-los. Combater as práticas corruptas que corroem as nossas relações cotidianas é tarefa de quem objetiva mudanças e emprega o termo cidadania. INDIGNAÇÃO é a atitude. Dou voz ao Papa. Na sua específica linguagem, ele dá o seu toque e convida para darmos um basta à violenta ação dos corruptos de todos os tipos: “O mesmo convite chegue também às pessoas fautoras ou cúmplices de corrupção. Esta praga putrefata da sociedade é um pecado grave que brada aos céus, porque mina as próprias bases da vida pessoal e social. A corrupção impede de olhar para o futuro com esperança, porque, com a sua prepotência e avidez, destrói os projetos dos fracos e esmaga os mais pobres. É um mal que se esconde nos gestos diários para se estender depois aos escândalos públicos. A corrupção é uma contumácia no pecado, que pretende substituir Deus com a ilusão do dinheiro como forma de poder. É uma obra das trevas, alimentada pela suspeita e a intriga. Corruptio optimi pessima: dizia, com razão, São Gregório Magno, querendo indicar que ninguém pode sentir-se imune desta tentação. Para a erradicar da vida pessoal e social são necesssárias prudência, vigilância, lealdade, transparência, juntamente com a coragem da denúncia. Se não se combate abertamente, mais cedo ou mais tarde torna-nos cúmplices e destrói-nos a vida”.