A MULHER DO FIM DO MUNDO é o nome do mais recente trabalho artístico de Elza Soares. Inclassificável é um adjetivo sintonizado com a citada obra e a sua intérprete. Admirável a ousadia da dona de uma das nossas grandes vozes. Em um exercício intergeracional, ela arrisca novas viagens criativas na companhia de uma moçada irrequieta na procura por sonoridades sem rótulos e enquadramentos. Em sintonia com Elza, produziram um som desafinado com o coro dos contentes. Surpreendentes, no palco, ela reina majestosa com nove instrumentistas em um espetáculo afirmativo e sem concessões. Um repertório de composições inéditas cantadas por uma senhora “dura na queda”. Uma criatura que carregou “lata d’água na cabeça”. Reconheceu a queda, não desanimou e deu a volta por cima. Em defesa das mulheres violentadas, ela canta com bravura: “...Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”. Na trilha pé no chão de uma artista antenada com o seu tempo, no qual os homens são transformados em mercadoria, Elza assume o canto da sua raça e denuncia: “A carne mais barata do mercado é a minha carne negra”. Elza é uma pérola da nossa história musical. Personalíssima. Inconfundível. Uma brasileira que cantou para não enlouquecer. Uma trajetória de choro, carnaval, dor e confetes. Elza é símbolo de resistência. “Mulher do fim do mundo eu sou / Eu vou até o fim cantar”. Para o bem de todos e felicidade geral dos amantes da música, canta Elza!