Revivendo carnavais, suas histórias e suas glórias, evoco o nome de Nelson Ferreira, destinatário do monólogo remetido por Aldemar Paiva. Reproduzo dois de seus trechos: “Nelson Ferreira / Todo mundo sabe / Da glória que lhe cabe / Como Rei do Carnaval... / Desse Carnaval maluco / Que nasceu em Pernambuco / E hoje é universal... / Quando chega o Carnaval / Quase todo mundo vê / Que o Recife passa mal / Com saudade de você!”. Tal exaltação celebra uma figura artística que fez a temperatura carnavalesca “frever” na companhia poética e lírica das suas composições. O pierrô sorri e convoca: “dance que o frevo garante”. Garimpo uma das suas pérolas musicais: “Cabelos brancos” é o título do frevo de bloco, lançado em 1961 pelo pernambucano que exaltou a “Veneza americana” com bonitos versos. Vem “frevendo” curtir o barulhinho bom de um poeta dos “carnavais saudosos” das colombinas e arlequins. Em 1932, uma marcha pernambucana de Nelson Ferreira era orquestrada com um frescor atemporal: “É com crise ou sem crise / Com dinheiro ou sem dinheiro / Carnavá é carnavá / Desfrutável no mundo inteiro”. Ao som da poesia musical de Nelson Ferreira, o frevo invade as ruas nos passos embalados por canções que seguem os romances carnavalescos. Cantigas com serpentina de uma frevança da memória musical brasileira. Ao som melodioso do poeta popular, o “Rei Momo” e a “Princesa Folia” arrastam os brincantes:

Se estou ficando

Com a cabeça branca

Não é velhice não senhor

Foi muito talco

De saudosos carnavais

Jogado em meus cabelos

Pelas mãos do meu amor

Ai, ai Saudade!

Vá embora!

Não brinque não!

Deixe-me sozinho

Com o cabelo empoado

E o perfume deste talco

Chamado Ilusão...