CINEMA E LOUCURA: CONHECENDO OS TRANSTORNOS MENTAIS ATRAVÉS DOS FILMES é o título de um livro escrito por J. Landeira – Fernandez e Elie Cheniaux. O acesso aos mais variados temas através da linguagem cinematográfica é a perspectiva metodológica que sustenta as nossas telas sociológicas. A referência bibliográfica antes citada vem no bojo do lançamento de NISE – O CORAÇÃO DA LOUCURA, filme dirigido por Roberto Berliner. A psiquiatra Nise da Silveira fez história na medicina brasileira. Em um campo médico conflituoso, marcado por diversos fazeres ou modelos médicos, ela vem romper com práticas médicas ortodoxas, marcadas pela violência dos tratamentos psiquiátricos prescritos no contexto dos anos 40 do século XX. A médica pensadora vai encontrar referências teóricas em Carl Gustav Jung para fundamentar o seu trabalho de terapia ocupacional com os seus “clientes”. Paciente é o profissional da saúde que precisa exercitar a sua paciência para com os seres humanos que são alvo do seu cuidado. Em um exercício terapêutico humanista, Nise, em seu ateliê de pinturas, montado na instituição hospitalar, provoca na sua clientela a liberação das “imagens do inconsciente” materializadas por eles nos quadros que pintavam. Os eletrochoques e as lobotomias psiquiátricas são substituídas pelos pinceis artísticos de sujeitos estimulados a expressar os seus engenhos de dentro. Encontrando a resistência entre seus pares profissionais, ela desafinou o coro dos contentes, fechados em seus procedimentos ortodoxos e convencionais. Em um modelo médico crítico, criativo, sensível e profundo, Nise é referência para quem defende um fazer médico humanizado onde a clientela tenha voz e vez na expressão da sua complexidade. Nise foi uma mulher farol. Ponte humana entre ciência e arte. Compromisso e responsabilidade em prol de saltos qualitativos. O nosso gripado mundo clama pelas loucuras médicas de Nises.