O que você diria para alguém que chegasse até você com ideação suicida? O Sr. Bagheri entra no carro de Badii e argumenta na direção de fazer com que este desista do objetivo de pôr um fim na sua própria vida. Um sublime momento do filme GOSTO DE CEREJA, de Abbas Kiarostami. A obra cinematográfica, em tela, é a própria cereja e é um estimulante regozijo para o espírito. Luminoso rebento da engenhosidade humana. Abre o apetite para o gosto pela vida. Uma produção artística mostra o lado farol do ser humano. A seguir, leia atentamente a fala do Sr. Bagheri. Um dulçor verbal: “Nós tínhamos problemas de todo tipo. Eu estava tão farto, que decidi terminar com tudo. Um dia, antes de amanhecer, eu coloquei uma corda no meu carro. Eu tinha tomado a decisão de me matar. Parti para Mianeh. Isso foi em 1960. Cheguei a uma plantação de amoras. Parei o carro. Ainda estava escuro. Tentei passar a corda por uma árvore, mas não consegui. Tentei uma vez, duas, mas sem sucesso. Então, subi na árvore e amarrei a corda com força. Aí, senti uma coisa macia sob a mão, eram amoras. Amoras deliciosamente doces. Comi uma, estava uma delícia. Então, comi uma segunda, uma terceira. De repente, percebi que o sol estava nascendo por trás da montanha. Que sol... Que paisagem... Que natureza! De repente, ouvi o barulho de crianças indo para a escola. Elas pararam para me olhar. Me pediram para sacudir a árvore. As amoras caíram, e elas as comeram. Eu me senti feliz. Então, apanhei algumas amoras para levar para casa. Minha mulher ainda estava dormindo. Quando acordou, ela também comeu as amoras. Ela também se deliciou com as amoras. Eu tinha saído de casa para me matar e voltei com as amoras. Uma amora salvou minha vida. Uma amora salvou minha vida”.

TELA SOCIOLÓGICA: GOSTO DE CEREJA. DIA 30 DE SETEMBRO DE 2016. SESSÕES: 16 e 18 HORAS. SALA DE VÍDEO I (CCHL/UFPI).