Escrevo animado pelo precioso fundo musical de Ella Fitzgerald. Uma grande voz. Talento raçudo para quem “a única coisa melhor do que cantar é cantar”. O calendário registra que hoje, 20 de novembro, é o dia de Combate ao Racismo, dia de Zumbi e dia da Consciência Negra. Aproveito a data para saudar as pretinhosidades humanas. Falo dos sujeitos negros (as), anônimos e famosos, que fazem a história empunhando as bandeiras da indignação e da resistência. É o protesto de uma raça dura na queda. “Gente nasceu para brilhar”. Ecoa um canto de revolta pelos ares contra a opressão sobre “a carne mais barata do mercado”. “Respeitem meus cabelos, brancos”. Discursam os poetas que desafinam o coro dos arautos da sociedade camarotizada. Sou neguinho e rebento de uma civilização imposta com a cruz e a espada. Casa grande e senzala. Nas batidas policiais nossas de cada dia, sou o primeiro suspeito. No Haiti da Belíndia brasileira, a criminalização da pobreza me pega. O camburão atualiza o navio negreiro. Em um mundo globarbarizado, Martin Luther King Jr. dá um toque: “A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar”. Estigmatizados, excluídos, apartados e invisibilizados, negros(as) tocam os seus movimentos e exaltam as suas belezas. Avanços e pedras atravessam as suas trajetórias. Saltos foram dados mas ainda tem muito trabalho pela frente. A luta continua. Pérolas aos povos. Oxalá, enquanto os homens exercem os seus podres poderes, os negros(as) continuem fazendo os seus carnavais.