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PPGPP101 - ATIVIDADE PROGRAMADA II - Turma: 10 (2016.2)

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  • "VOCÊ SE INCOMODA SE EU PEGAR NOS SEUS SEIOS?"
  • 27/11/2016 21:55
  • Texto:

    Hoje é o dia Nacional do Combate ao Câncer. Na companhia das letras, aproveito a data para falar de uma perspectiva teórico-metodológica direcionada a quem está envolvido com a formação humanística dos profissionais da saúde. Ancorado em François Laplantine, no seu livro “Antropologia da Doença”, assumo o acesso à doença através do texto literário. A literatura é apresentada como uma densa fonte de pesquisa para a abordagem de um tema particular. Os desdobramentos subjetivos do adoecer recebem os seus registros escritos. Importantes escritores narram a subjetividade e o cotidiano do sujeito doente. Como exemplo, cito o aclamado escritor PHILIP ROTH, em sua consistente obra “O Animal Agonizante”. O câncer de mama, no contexto de uma relação amorosa, ganha uma narração sensível, delicada e profunda. David Kepesh e Consuela Castillo protagonizam os ais gozosos e dolorosos do romance de PHILIP ROTH. No prelúdio do citado texto, lemos uma epígrafe de Edna O’Brien: “O corpo contém a história da vida tanto quanto o cérebro”. A mencionada obra literária de PHILIP ROTH ganhou uma versão cinematográfica pelas mãos da diretora Isabel Coixet. No título em português o filme recebeu o nome de “Fatal”. Cinema e literatura em mais um profícuo diálogo. Abrindo o livro “O Animal Agonizante”, seleciono os seguintes fragmentos relacionados à enfermidade de Consuela:

    “...Pois então, estamos nós dois sentados, eu pegando no seio dela, nós dois conversando, e então perguntei: “Você não se incomoda?”. E ela: “Eu quero até mais de você. Porque sei que você adora meus seios”. E eu: “O que é que você quer?”. “Quero que você apalpe o meu câncer”. E eu: “Está bem. Isso eu faço. Mas depois, isso a gente faz depois”.

         Era cedo demais. Eu não estava preparado para isso. Assim, ficamos conversando, e ela começou a chorar, e tentei confortá-la, e de repente ela parou de chorar e ficou cheia de energia, muito decidida. E me disse: “David, na verdade procurei você pra fazer um único pedido, fazer uma pergunta só”. E eu: “O que é?”. E ela: “Depois de você, não tive nenhum namorado nem amante que amasse meu corpo tanto quanto você amou”.

         “...Então ela disse: “David, posso te pedir um grande favor?”. “Claro. Qualquer coisa”. “Você podia se despedir dos meus seios?” Eu: “Minha querida, minha queridíssima, eles não vão destruir o seu corpo, não”. “Bom, eu tenho sorte de ter tanto peito, mas eles vão ter que tirar mais ou menos um terço. Minha médica está tentando tudo pra que a cirurgia seja mínima. Ela é humana. Ela é maravilhosa. Não é uma carniceira. Não é uma máquina desprovida de sentimentos. Primeiro ela está tentando diminuir o câncer com a químio. Aí, quando eles operarem, eles vão tirar o mínimo possível”. “Mas eles podem restaurar, refazer o que tirarem, não é?” “É, eles podem botar silicone. Mas eu não sei se vou querer. Porque isso aqui é o meu corpo, e o silicone não vai ser. Não vai ser nada.” “E como é que você quer que eu me despeça? O que é que você quer? O que é que você está me pedindo, Consuela?” E finalmente ela me disse”.



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