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PPGPP101 - ATIVIDADE PROGRAMADA II - Turma: 10 (2016.2)

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  • V(HIV)ENDO NOS TEMPOS DO FICAR
  • 02/12/2016 00:06
  • Texto:

    Primeiro de dezembro é o Dia Mundial da Luta contra a Aids. Dos primórdios dos anos oitenta aos dias atuais, ela continua fazendo parte dos nossos shows cotidianos. “O nosso prazer é risco de vida”. O toque do Cazuza não perdeu a sua atualidade. “Viver é o maior barato”. “Viver faz mal à saúde”. Falas dos personagens de Aberto Guzik que marcaram a história social de uma doença que não conhece “grupo de risco”. “Se você não se cuidar, a Aids vai te pegar” e “Quem vê cara não vê Aids” foram conteúdos de campanhas preventivas. “Filadélfia”, “Meu Querido Companheiro”, “A Cura”, “Noites Felinas”, “Carandiru”, “Blue”, “Kids” e outros títulos de filmes fizeram parte do cinema mostra Aids. Caixas de remédio e sangue contaminado foram usados em criações artísticas. Leonilson e os perigosos nas histórias posit(HIV)as. O teatro trouxe o Jó bíblico para o contexto de mais uma peste, epidemia ou pandemia. Os moralistas de plantão não perderam a chance de construir uma pregação moralizadora. Para os portadores do HIV, contar ou não contar sobre as suas sorologias, é uma questão. Um vírus só não faz doença. Fantasias variadas sobre a singular doença que afeta o sistema imunológico e transforma os seus portadores em objetos de decifração. Recomendo a leitura de A “Aids e suas Metáforas”, de Susan Sontag. Herbert Daniel, nas suas anotações à margem do viver com Aids, evoca a ideia de que os nossos corpos têm potencialidades romanescas. “Meu Corpo Daria um Romance”. Herbert de Souza, o Betinho, mostrou que a Aids fez um verdadeiro strip-tease do nosso iníquo quadro social. A “Dama da Noite” do Caio Fernando de Abreu está fora da roda. Excluída, estigmatizada e invisível. A sociedade civil deu as suas respostas. Aproveito a oportunidade para lembrar do trabalho desenvolvido pelas ONG’s/AIDS. Destaco o grupo PELA VIDDA (Valorização, Integração e Dignidade do Doente de Aids) de São Paulo. “Olha a cara dela. A Aids não é mais aquela”. Na companhia das letras trago na memória o livro “A Doença, uma experiência”, ficção criada por Jean-Claude Bernardet. Romance de 1996, sem “nenhuma tendência pelo politicamente correto”. Partilho alguns dos seus fragmentos:

           “Sei que sou um doente privilegiado. O que vivo, tento viver, como seria possível para aquele que saiu do seu bairro periférico apenas com o dinheiro da passagem para ir ao hospital e, na volta, encontrou suas roupas queimadas pela família para evitar o contágio? aquele, desempregado porque doente, apoio de pais de mais de setenta anos, varado pela diarréia, e que não comia nada até que pelo fim da tarde conseguíamos levar-lhe algum alimento? aquele, denunciado pela tez cada vez mais opaca, aterrorizado com a perspectiva de se tornar objeto de chacotas machistas se seus colegas viessem a descobrir? Sou aidético privilegiado.

            A doença é uma fonte de energia. A doença não é uma fonte de energia, fonte de energia é o enfrentamento da doença. ...Digo AIDS, e não digo doença, digo sou AIDÉTICO, e não digo Estou doente ou Sou portador do HIV. Já que estamos com AIDS, pelo menos que se viva a doença com intensidade. ...Tirar energia da doença implica nomeá-la e olhá-la de frente”.



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