TELA SOCIOLÓGICA: GUARDARÁS DOMINGOS E FESTAS DE GUARDA. DIA 19 DE DEZEMBRO DE 2016. 16 HORAS. SALA DE VÍDEO II (CCHL/UFPI). O DECÁLOGO (DEKALOG) é mais uma densa obra cinematográfica de krzysztof Kieslowski. Cada um dos dez mandamentos bíblicos serviu de base para a criação de narrativas que fundamentam a complexidade humana. Cada uma delas aprofunda a ideia de que somos multifacetados e contraditórios. Construtores ambivalentes e paradoxais. Humanos demais para sermos encaixados em maniqueísmos e visões reducionistas. Sujeitos desejantes marcados pela ambiguidade e pelos conflitos entre as pulsões que comandam as nossas existências. Eros e tânatos. “Um lado carente dizendo sim e a vida gritando não”. Em GUARDARÁS DOMINGOS E FESTAS DE GUARDA, o cineasta narra, com maestria, o drama de um homem casado e com filhos que, no contexto natalino, atende ao chamado da ex-amante. A “outra” entra em cena “quebrando a hóstia”. O mandamento sagrado está escrito. Obedecê-lo nem sempre está em sintonia com as capacidades dos seus pretensos seguidores. Há quem mencione uma fraqueza carnal. A sociedade de mercado, secular, materialista e profana, não leva em conta dia santificado. As catedrais do consumo abrem as suas portas todos os dias. As tensões marcam os cotidianos dos sujeitos divididos entre múltiplos desejos. Entre a palavra registrada e o seu cumprimento prático, há uma distância mediada por vontades, sentimentos e emoções. Caracterizados pela vulnerabilidade e carência, convém a quem objetiva ser cristão atentar para o ditado popular que previne para que andemos “devagar com o andor porque o santo é de barro”. E por falar em santidade, abro espaço para os seus representantes: São João da Cruz fala em renúncia: “Renuncie aos desejos e encontrará o que seu coração deseja”. Santo Antônio de Pádua propõe despojamento: “Todo aquele que deseja ser verdadeiramente humilde, despoje-se das riquezas”. Exigências cristãs para criaturas precárias e frágeis. É hora de conjugar o verbo tentar. Em “seus aforismos teológicos de um homem sem fé”, Luiz Felipe Pondé reflete sobre “a solidão indesejada” quando aborda o terceiro mandamento referendado no texto fílmico Kieslovskiano. Kieslovski faz um cinema reflexivo, inteligente, sutil e perspicaz quando penetra na conceituação do que seja o humano. Um autor de textos cinematográficos pensantes com a presença de questões filosóficas. O cineasta que coloriu a liberdade, a igualdade e a fraternidade mostra como tem caminhado a humanidade.