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PPGS005 - METODOLOGIA DA PESQUISA II - Turma: 01 (2018.2)

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  • IANSÃ, CADÊ OGUM?
  • 20/08/2018 23:17
  • Texto:

    Na pagela franciscana do “Coração de Jesus”, de 14 de agosto (2018), há o registro de ser o “dia do protesto e dia da unidade humana”. Protestemos contra todas as formas de preconceito e discriminação, entre as quais as direcionadas às manifestações religiosas não católicas. Demos vivas à diversidade de cultos religiosos. Para o dia 15 de agosto, o franciscano calendário católico registrou, entre os santos, a comemoração alusiva à assunção de Nossa Senhora. As caminhadas com Maria tomaram conta das ruas de algumas cidades brasileiras. Não esqueçamos que também foi o dia de levar floridas oferendas para Iemanjá, a rainha do mar. O pessoal dos terreiros, nas beiras de mar dos nossos brasis, ao som dos seus contagiantes batuques, fizeram as suas singulares festas.

     A sociologia clássica, na companhia das letras de Émile Durkheim e Max Weber, fundamenta o respeito pela pluralidade religiosa. No campo cultural, todas as manifestações religiosas são instituições sociais produtoras de sentido e âncoras consolatórias para os desamparos e desassossegos existenciais. Porto seguro para o atendimento das demandas individuais e coletivas, relacionadas às nossas múltiplas dimensões. Procura por emprego, cura para uma enfermidade, solução para uma crise conjugal, libertação da dependência química e a salvação eterna são conteúdos expressos nos pedidos feitos por ocasião dos cerimoniais religiosos. Em nome de Deus, todas as religiões geram luzes e trevas. As “santas” guerras e inquisições são exemplares. Práticas religiosas libertam e alienam. Fascinam e aterrorizam. As suas histórias confirmam serem elas multifacetadas. Entre o sagrado e o profano, a teocêntrica idade média tem muito o que contar. Para vê-la, em telânicas imagens preto e branco, assista “O Sétimo Selo”, um magistral olhar cinematográfico de Ingmar Bergman sobre as pestes e fulgores medievais. Para o catolicismo, 2018 é o ano do laicato. Viva o estado laico!

    O campo religioso é definido por relações objetivas de transação e concorrência. É a economia das trocas simbólicas. Consultemos Pierre Bourdieu. Na vida para consumo, elas constituem rentáveis mercados. Igrejas são empresas de salvação das almas e administram os seus específicos bens. Burocracias administradas por funcionários especializados. Do ponto de vista sociológico, todas são vistas com a mesma perplexidade. Não cabem discursos apologéticos, proselitistas, dogmáticos e fundamentalistas. Sob o prisma sociológico, todas as religiões são verdadeiras, pois respondem, cada uma com os seus conteúdos particulares, às diversas buscas dos seus seguidores. Do santuário mariano ao terreiro de umbanda, encontramos a humanidade sedenta de pão e rosas. As carências humanas batem nas portas das sinagogas judaicas, dos templos evangélicos e das mesquitas islâmicas. Cada uma delas oferta o seu atendimento especial. Pregações prenhes de significados para as angústias e incertezas dos seus séquitos. Divergem entre si, mas todas conjugam o verbo amar. É a vida eterna católica e a reencarnação espírita consolando os ais dolorosos por quem partiu e passou a ser chamado de saudade.

    Há sociólogos que são padres, pastores e judeus. Despudoradamente assumem as suas facetas religiosas. Ser religioso é um marcador identitário. Os agnósticos e os ateus marcam presença com as suas imaginações sociológicas. O que eles não devem é ficar indiferentes aos êxtases, transes e gozos religiosos observados no cotidiano. Onde dois ou três estiverem reunidos em torno de algo motivador, haverá a geração de ações significativas. Seus atores estimulam para que sejam compreendidos e interpretados. Passando por uma beira mar, o sociólogo ouve o som de tambores e chega perto dos rituais festivos celebrando Iemanjá. Catimbó, giras, preces, louvações, corpos excitados e um barulhinho contagiante de atabaques. Manifestações culturais ricas em símbolos e subjetivações. Pais e mães de santo, ao som dos tambozeiros, afirmam um patrimônio imaterial ancestral. Da mãe África, o canto das três raças exalta a deusa dos orixás e as forças da natureza. Evoco a guerreira Clara Nunes, filha de Ogum com Iansã. Já na década de 70, sob o “cálice” dos censores e apesar deles , ousou cantar a sua crença afrodescendente. Vestida de branco, com os pés descalços em areias marinhas, a claridade de uma cantora do “Partido Clementina de Jesus”. Em 1976, na ousada trilha sonora que invocava a “doce mãe dessa gente morena”, a abelha rainha Maria Bethânia, com “As Ayabás”, pronunciou o nome afirmativo e libertador de Oxum. “Pássaro Proibido” solto pelas potências vocais que exaltam a “força da beleza”.



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