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PPGS020 - SEXUALIDADE, IDENTIDADES E SUBJETIVIDADES - Turma: 01 (2019.1)

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  • A OPERÍSTICA SALOMÉ DE OSCAR WILDE
  • 10/04/2019 00:22
  • Texto:

    TELA SOCIOLÓGICA: ÓPERA SALOMÉ. DIA 11 DE ABRIL (2019). 16 HORAS. SALA DE VÍDEO II (CCHL/UFPI). A Bíblia cristã é um livro sagrado que abre para várias possibilidades de leitura. O cristão, lança sobre ela o seu olhar religioso. A lente do crente, homem de fé, apresenta uma ótica particular. Para o pesquisador das ciências humanas e sociais, o texto bíblico é uma fonte de pesquisa histórica, sociológica, filosófica e literária. Oscar Wilde vai às páginas bíblicas para embasar um de seus famosos textos teatrais: SALOMÉ. No evangelho de Mateus, capítulo 14, versículos 1 a 13, encontramos a narração sobre a morte de João Batista. O que levou a filha de Herodíades a pedir, numa bandeja, a cabeça de João Batista? Exegetas bíblicos emitem as suas contextualizadas interpretações. Os estudos teológicos contextualizam as narrativas do antigo e novo testamentos, situadas no contexto histórico em que foram produzidas. Cenários de disputas políticas e religiosas. O “Deus dos exércitos” entre a cruz e a espada. Os profetas cristãos, com as suas qualidades carismáticas, anunciavam e denunciavam. Indignação profética  incômoda para os poderosos do momento. João Batista, no anúncio do Messias que estava próximo, denunciava as estruturas morais e de poder do seu tempo. Como separar fé e política?

    Do drama joanino, com objetivos literários, Oscar Wilde elabora a sua dramaturgia. Em um exercício de liberdade imaginativa, dá nome e protagonismo a uma coadjuvante personagem evangélica. A princesa Salomé evoca as mulheres fatais e sedutoras que fizeram fama na história literária. Um papel complexo a ser encenado por atrizes sequiosas por desafios teatrais. Bela figura feminina, despertadora dos desejos masculinos que cruzam o seu caminho. A começar pelo tetrarca Herodes, amante da sua mãe, disposto a dar metade do seu reino para saciá-la. Salomé, jogando com os seus poderes, não estava habituada a ouvir um “não” diante das suas vontades. No fausto da corte real, entre bajulações e paparicos, colecionava respostas afirmativas aos seus caprichos. Aos seus encantamentos femininos, as miradas desejantes dos homens seduzidos pela sua tentadora presença. Salomé despertava ciúme na sua própria mãe.

    Intrépida, Salomé é afetada, de forma profunda, quando põe os olhos em João Batista, o homem santificado, profeta, divino, e que para ela será objeto dos seus desejos carnais. Salomé fica encantada com a visão da enigmática e selvagem criatura. Impacto subjetivo a mexer com a sua curiosidade. Quem era aquele ser carnal alvo de tantas controvérsias religiosas e políticas? Questões conjunturais à parte, Salomé deseja João Batista jovem, atraente e sensual, aos seus olhos, com ardor. Explicita a sua vontade de tocá-lo, pegar nos seus cabelos e beijá-lo na boca. Enamorada, arrasta-se aos seus pés com a intenção de possuí-lo como um homem capaz de gerar prazer. Reside aqui a originalidade e a subversão da narrativa de Oscar Wilde. Das brechas da matriz bíblica, ele constrói uma obra complexa e humaniza os seus personagens. Sem intentos doutrinários e proselitistas, monta uma concepção secular, profana e que mergulha nas profundezas das motivações humanas. O que somos capazes de fazer quando contrariados? Os que acham que tudo podem e conseguem, como reagem a uma resposta negativa? Como respondem os que são rejeitados? João Batista amaldiçoou Salomé, “filha de Sodoma”.

    Rejeitada por João Batista, Salomé pede, em uma bandeja, a cabeça do divinizado homem que ousou contrariar os seus apetites. Um convicto e firme João Batista, fiel à sua missão de precursor de Jesus Cristo, não se deixa levar pelos encantos sedutores de Salomé. Após dançar para Herodes e seus convidados, em uma coreografia marcada por sensualidade de movimentos, ela profere o mortífero pedido para saciar os seus vingativos intentos. Um medroso e dúbio Herodes fica abalado pelo pleito a ele dirigido. Implicações das mais variadas ordens recairiam sobre ele caso atendesse ao capricho da sua enteada. Ele tenta demovê-la do seu sanguinário objetivo. Obstinada, Salomé não cede às estimulantes e valiosas dádivas materiais oferecidas na tentativa de afastá-la da sua intenção de decapitar “a voz que clama no deserto”. Por fim, Herodes, após exaustivos esforços de convencimento, cumpre o juramento de que ela seria premiada caso dançasse para ele. Episódio de gênese bíblica que rendeu desdobramentos operísticos. O teatro, o canto e a música orquestral, em afinado diálogo, ofereceram as suas artes para a criação operística SALOMÉ, musicada por Richard Strauss (1864-1949). A versão focalizada, de 1974, foi conduzida pela “Wiener Philharmoniker”, sob a regência de Karl Böhm. A direção ficou a cargo de Götz Friedrich. A literatura de Oscar Wilde embasa uma bela ópera para refletirmos sobre as ambivalências e paradoxos humanos. Salomés amantes e mortíferas representam o breu e o luzidio das nossas humanidades.



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