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PPGS020 - SEXUALIDADE, IDENTIDADES E SUBJETIVIDADES - Turma: 01 (2019.1)

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  • "EU PODIA DESCANSAR MAS CONTINUO VENDENDO CARANGUEJO"
  • 20/06/2019 22:29
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    Festas juninas tomam conta dos nossos brasis, em especial as do Nordeste. Canjicas, pamonhas, aluás, pés de moleque e outras gostosas iguarias dão um sabor especial aos festivos arraiais. E por falar em alimentos, não esqueço dos pães espirituais. Apresento um biscoito fino sonoro. D(i)scoberta musical valiosa: em 2017, o Trio Nordestino lançou o precioso TRIO NORDESTINO CANTA O NORDESTE. Danado de bom. Uma seleção de pérolas musicais concebidas pelos mais expressivos compositores de uma singular região brasileira. Viva Gordurinha! Vozes da seca, dos migrantes e dos cabras da peste. Sons emissores dos ais dolorosos mas também dos gozosos. Gente resistente que, em meio às dores cotidianas, reza, dança e vive as suas múltiplas dimensões. Pão e poesia, festa e política. Sagrado e profano. Novena e cachaça. Lamentos, fogueiras e balões juninos. Santo Antonio, São Pedro e São João do carneirinho. Gonzagas, Gordurinhas, Joãos, Ceceus, Jacksons e tantos outros representativos nomes artísticos que, com sensibilidade e identificação, traduziram as condições existenciais de um povo duro na queda. Criadores musicais de uma nordestinidade de sotaques diversificados. Comunicadores da pobreza social e da riqueza cultural de uma terra de contrastes. Uma gente que chora, ri e aguenta. Com raça, enfrenta as suas tragicomédias. Marias com a “estranha mania de ter fé na vida”. Nas narrativas expressivas dos seus dramas, sonorizam protestos, denúncias e demandas. Sobre a composição “Vozes da Seca” (Luiz Gonzaga/Zé Dantas), lemos a análise de José Farias dos Santos: “Podemos considerá-la como uma carta, escrita pelo nordestino ferido em seu orgulho e dignidade, endereçada ao governo federal”.

    Na trilha dos paus de arara das viajantes vidas dos “baianos” e “paraíbas”, pelas estradas brasileiras, Gonzagas e Gordurinhas conceberam a “síntese poética e musical do sertão”. Falas nordestinas enraizadas. Do aboio ao bombo do tambor do zabumbeiro, o glossário do falar nordestino é emitido, em especial, no repertório de Luiz Gonzaga. O pernambucano de Exu é biografado em uma viagem reflexiva pelas letras do seu repertório. Elba Braga Ramalho foi às suas raízes e destacou as razões da popularidade de Gonzagão. Um sujeito de características artísticas sintonizadas com a língua regional interiorana, matuta, caipira. Da caatinga para o pagode russo, Luiz Gonzaga é “meio de expressão” vocal das dores e delícias de ser nordestino. A voz da majestade sanfoneira capta o “espírito” do seu torrão natal. O sociólogo liga o rádio, ouve de Luiz Gonzaga a Mozart, geniais mentes criativas, e à luz de Max Weber, Norbert Elias e Theodor W. Adorno é introduzido à Sociologia da Música.

    Compondo imagens sonoras, os criadores abrangem as múltiplas dimensões humanas: são amantes, religiosos, ecologistas, políticos, cronistas, trovadores e poetas. São imaginações que narram e musicam as sagas de resistentes criaturas. Vidas secas mas prenhes de inventividade antropossociológica e artística. Lamentações sertanejas, léguas tiranas, tristes partidas, funerais de lavradores e outros lacrimosos gemidos. Mas tem o outro lado: o chamego, o xodó, o forró, a novena, o xaxado, a quermesse, o xote e o baião de dois. E o Trio Nordestino é sabido para, armado de triângulo, sanfona e zabumba, cantar os “miltons” do nosso rico patrimônio cultural. Músicos, munidos dos seus instrumentos de trabalho, no enfrentamento dos “podres poderes” dos currais eleitorais do clientelismo, nepotismo e favoritismo exercidos pelos “donos” do poder e as suas indústrias da miséria. Sonoridade grave e lírica dos artistas intérpretes da nossa dramaturgia “glocal”, ou seja, local e globalizada. Três homens, em travessias geracionais, cantam um repertório consagrado e clássico de um chão bruto e romântico. Só nos resta dar um play e curtir as seguintes joias, vocalizadas pelos cidadãos que subjetivam os cotidianos dos que sofrem e gozam em um pedaço brasileiro. Do Maranhão à Bahia, nossas fomes e sedes são múltiplas. Para quem está sequioso por um barulhinho bom, segue a lista das músicas cantadas no saboroso TRIO NORDESTINO CANTA O NORDESTE: 1) Sebastiana (Rosil Cavalcanti); 2) Súplica Cearense (Gordurinha e Nelinho); 3) O Canto da Ema (Alventino Cavalcante, Ayres Viana e João do Vale); 4) A Dança do Xenhenhem (Antônio Barros); 5) Bate Coração (Ceceu); 6) Não Tá Certo Não (Gordurinha); 7) A Morte do Vaqueiro (Luiz Gonzaga e Nelson Barbalho); 8) Carcará (João do Vale e José Cândido); 9) De Teresina a São Luiz (João do Vale e Helena Gonzaga); 10) O Vendedor de Caranguejo (Gordurinha); 11) Mais que um Amigo (Dominguinhos); 12) Tenho Sede (Dominguinhos e Anastácia); 13) Sou o Estopim (Antônio Barros); 14) Olha pro Céu (Luiz Gonzaga e José Fernandes). Mestre lua convida e lá vou eu contemplar a estação lunar de hoje.



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