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PPGS020 - SEXUALIDADE, IDENTIDADES E SUBJETIVIDADES - Turma: 01 (2019.1)

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  • LAGO DOS CISNES HOMOERÓTICO
  • 24/06/2019 00:19
  • Texto:

    TELA SOCIOLÓGICA: SWAN LAKE – LAGO DOS CISNES. DIA 25 DE JUNHO DE 2019. 16 HORAS. SALA DE VÍDEO II (CCHL/UFPI). Rudolf Nureyev, Yuri Grigorovich e outros importantes coreógrafos criaram versões para o clássico balé LAGO DOS CISNES (SWAN LAKE), obra consagrada de Tchaikovsky (1840 – 1893). Fantasia musical que atravessa séculos, em sucessivas montagens. Bailarinos(as) profissionais sonham em compor o elenco de uma delas. Odette, o Príncipe Siegfried e a Rainha do contexto imperial encenado, são personagens cobiçados no mundo da dança universal em seus acompanhamentos orquestrais. Encantado sou pela música de Tchaikovsky, em especial por Swan Lake. Nas minhas viagens musicais, encontrei uma singular encenação do texto musical tchaikovskyano. Dirigida e coreografada por Matthew Bourne e conduzida por David Lloyd-Jones à frente da The New London Orchestra. Uma versão ousada na qual os cisnes, que habitam o mundo onírico do Príncipe, são figuras do sexo masculino. Nas outras montagens, as presenças femininas são os alvos das investidas do herdeiro do trono.

    Na concepção de Matthew Bourne, o Cisne principal é “um ser imaginário forte, masculino e formoso. Para o Príncipe, representa a liberdade, a paz e o desejo”. A Rainha “não tem cônjuge e recebe a diversos amantes jovens”. Realeza apresentada fora dos padrões oficiais, “normais” e convencionais. No ato II, no City Park, “o Príncipe acaba sentando-se em um banco do parque, ébrio e sozinho. Vê alguns cisnes que nadam no lago e sonha com evadir-se de sua vida infeliz”. O “bailado em forma de divertimento para o Cisne protagonista e seus companheiros”, conta com a participação do Príncipe após notívaga aventura de busca, em diversão alocada e ébria. Dança conduzida pelos movimentos dos corpos masculinos. Erotismo e sensualidade na aproximação física entre homens viris e delicados. Dançando em masculinizada sincronia, expressam afetividade e atração entre criaturas que compartilham de um mesmo sexo.

    A leitura personalizada feita por Matthew Bourne, de Swan Lake, subverte os padrões tradicionais de uma narrativa romântica enquadrada dentro do modelo do casal homem e mulher. Um produto artístico quando vem a público, foge ao controle dos seus criadores e afeta, de diferentes modos, os seus apreciadores ou curtidores. Em torno do conteúdo apresentado, são elaboradas as mais diversas interpretações, congruentes ou não com os objetivos traçados pelos seus autores. Swan Lake, na concepção de Matthew Bourne, afetou-me pelas suas qualidades artísticas e pelo seu teor subversivo no tocante às performáticas cenas, protagonizadas por corpos masculinos em movimentos coreográficos evocativos das atrações homoeróticas.

    Em dialógicos encontros, imagino um debate entre Matthew Bourne e nomes referências no campo das ciências humanas e sociais. “Meninos jogam futebol, ou lutam boxe, ou luta livre. Não essa frescura de balé”. Fala emitida pelo pai de Billy, quando descobre o desejo do filho em tornar-se bailarino. Evoco o filme “Billy Elliot”, dirigido por Stephen Daldry. Do cinema parto para as reflexões filosóficas e antropossociológicas sobre a citada provocação paterna. Principio com a subvertedora reflexão de Judith Butler. Feminismo com “...um efeito subversivo sobre as normas de gênero” e suas “noções naturalizadas e reificadas”. Mobilização estratégica no enfrentamento da “hegemonia masculina” e do “poder heterossexista”. Na trilha desconstrutora, Guacira Lopes Louro reforça a crítica à “masculinidade hegemônica” e à “heteronormatividade”. No campo educacional, com a teoria queer, Richard Miskolci propõe “um aprendizado pelas diferenças”. “Estranhando a educação”, em nome da diversidade, propõe a visualização das “novas formas de expressão sexual e afetiva entre os estudantes”. Miskolci ressalta a “importância do prazer” e aponta para a “ampliação das possibilidades relacionais”. É a voz sensível da Sociologia do desejo sintonizada com as vozes libertárias. Cabe aqui a eloquência discursiva de James Baldwin: “Estamos muito cruelmente presos entre o que gostaríamos de ser e o que realmente somos”.

    Na sequência das respostas ao provocativo enunciado do pai de Billy, convido Raewyn Connell a emitir o seu ponto de vista subvertedor. Em uma perspectiva global, em termos reais, no mundo contemporâneo de mudanças, o gênero é compreendido da esfera pessoal à política. As suas alegrias, tensões e complicações são abordadas pelas lentes sociológicas articuladoras de olhares que desconstroem, subvertem e mobilizam. Âncoras teóricas afinadas com a resposta de Billy ao pensamento paterno: “Porque gosto de balé não quer dizer que sou bicha, sabe”. Um detalhe: Billy Elliot chega a protagonizar Swan Lake. Na cena final do filme, ele dança para a plateia onde estão o seu pai e o seu irmão. Adam Cooper, o bailarino que interpreta Billy, com mais de vinte anos, protagoniza a inovadora criação de Swan Lake, coreografada por Matthew Bourne.

    Swan Lake, na dançante imaginação de Matthew Bourne, acrescenta elementos novos ao como narrar a diversidade de encontros afetivos com possibilidades de ocorrência no Lago musicado por Tchaikovsky. A seguir, reproduzo a fala da Sra. Wilkinson, a professora de balé de Billy Elliot, resumindo o drama amoroso contado no LAGO DOS CISNES: “É sobre uma mulher capturada por um feiticeiro mau. ...E esta mulher, esta linda mulher, é transformada em cisne. A não ser por algumas horas durante a noite, quando ela ganha vida. E volta a ser humana. E aí então, numa noite, ela conhece um jovem príncipe. E ele se apaixona por ela. E ela percebe que esta é a única coisa que fará com que ela volte a ser uma mulher. ...Ele promete se casar com ela, mas vai embora com outra, claro. ...Ela morre. ...É só uma história”. Eis a base dramática a partir da qual Matthew Bourne inovou na sua forma de recontar os amores entre os iguais e os diferentes.



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