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PPGS003 - SEMINÁRIO DE PROJETO - Turma: 04 (2019.2)

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  • O POWER GAY DO RE(X)ISTENTE MATIZES
  • 01/09/2019 00:19
  • Texto:

    BEFORE STONEWALL (EUA, 1984), um filme de Greta Schiller, documenta sobre como viviam os(as) homossexuais nos anos que antecederam “o dia de nascimento do movimento pela liberação gay”. A retrospectiva temporal vai para uma sexta-feira, do dia 27 de junho de 1969. De lá para cá, são 50 anos de lutas. Avanços e retrocessos na caminhada de uma colorida bandeira política. Queremos comida, salários decentes e amar em sintonia com o grito dos nossos desejos. Stonewall é marco histórico narrado a partir da reação coletiva à invasão do Stonewall Inn, um bar gay que foi alvo do ataque das forças policiais a serviço da manutenção da ordem patriarcal e heteronormativa. Marcante acontecimento a ser destacado como referência para quem realiza as semanas do orgulho de ser e as paradas da diversidade. Destaco a “ReXistência” dos matizianos. Para quem não mora em Teresina, bato palmas para os ousados militantes do grupo Matizes, principal organização de militância LGBT da terra da cajuína cristalina. O que eles(as) realizam hoje evoca a memória histórica de todos aqueles(as) que foram perseguidos, torturados e mortos por defenderem o direito de pronunciar o nome dos seus amores proibidos pelos olhos dos poderes vigilantes e punitivos. Viva Michel Foucault!

    O Cristiano e o Charles, ambos na faixa etária dos 19 anos e que trocam carícias e beijos nos bancos dos nossos espaços universitários, devem um muito obrigado a: Oscar Wilde, Walt Whitman, Cassandra Rios, Allen Ginsberg, Luiz Mott, João Silvério Trevisan, Caio Fernando Abreu, Peter Fry, Edward MacRae, Judith Butler, Derek Jarman, Gus Van Sant, Rainer Werner Fassbinder, Pedro Almodóvar, Agnaldo Timóteo, Ney Matogrosso, Angela Ro Ro, Cássia Eller, Cazuza, Rogéria, Andréa de Mayo, Kátia Tapety, Isabelita Kenedy, Maria Aires, Solimar Lima, Marinalva Santana, etc. A lista é enorme dos sujeitos artísticos, literários e figuras do nosso cotidiano piauiense que, em tempos idos, de conjunturais limitações democráticas, atreveram-se a afrontar a moral e os “bons costumes” da civilização imposta com a crua e a espada, dominada por brancos, heterossexistas e homens machos. Exalto o legado geracional e exemplar dos cidadãos(as) que ontem e ainda hoje marcam presença com os seus talentos e contribuições políticas para uma sociedade mais livre, diversa e aberta a todas as tribos. Enalteço pessoas faróis que fizeram e fazem a diferença nas nossas vidas. Gente comprometida e atenta aos sinais multicores dos seus tempos. Figuras humanas que pagaram altos preços pelas suas ousadias comportamentais. Foram vistas e tratadas como doentes, criminosos, pecadores, anormais, desviantes e sem-vergonhas. Estigmatizadas, desvendaram máscaras sociais e hipocrisias veladas por debaixo dos panos para ninguém saber.

    “Por que calar nossos amores?” A poesia homoerótica latina, nas letras de Quinto Lutácio Cátulo, antes de Cristo, era remetida para o seu amado “mais belo do que um deus”. Para a Cláudia, que tem hoje 18 anos e é namorada da Carla, com a idade de 22, sugiro que elas leiam os seguintes depoimentos, dados por quem viveu as suas homoafetividades e homoerotismos antes de Stonewall. Desde os anos 20 do século passado, os sangues por eles(as) derramados regaram os chãos brutos de homofóbicos preconceitos e fizeram brotar as sementes geradoras dos dias mais claros em que vocês duas estão podendo ficar namorando na praça de alimentação do teresinense Shopping Riverside. Cabe a vocês dar sequência ao ativismo aberto pelos autores dos discursos que seguem. A luta continua. Os dialéticos processos históricos são feitos de progressos e regressões. Para as garotas antes citadas, dou mais um toque. Não esqueçam de agradecer aos emissores das mensagens que serão lidas na sequência:

    “Nos anos 40, a bomba explodiu. Nos anos 40, todo o planeta foi ameaçado biologicamente. Nos anos 40, houve uma recuperação da total perda de moralidade nos campos de concentração. Para aqueles que eram homossexuais, foi a percepção de que não devíamos nos intimidar por um punhado de idiotas que não sabiam nada sobre a vida. Quem são para nos dizer como nos sentimos e como nos comportar? Por que aguentar essa merda? Por que não respondermos, começar a falar abertamente?”

    “A primeira reunião gay, que cresceu no movimento que conhecemos hoje, aconteceu no apartamento de alguém em Los Angeles, e me disseram que trancaram a porta, fecharam as cortinas, e um pôster de ‘cuidado com a polícia’, pois achavam que podiam ser presos só por falar sobre homossexualidade”.

    “Quando eu estava crescendo, e as pessoas da minha idade estavam crescendo a maioria dos pais, quando descobria que éramos gays, nos excomungavam da família, ou nos abandonavam. Não éramos chamados para muitos eventos familiares. Minha mãe rasgou o convite de casamento do meu irmão para mim, pois não queria que a sapata fosse. Muitas coisas assim aconteciam com gays que cresceram nos anos 50 e 60”.

    “Era uma mentalidade de vigilância. Esse negócio de ficar incomodando todos. Com 2 ou 3 viaturas por aí investigando todos. Registravam eles, e os prendiam. No dia seguinte, um dos jornais publicaria os nomes das pessoas que foram detidas nos bares gays, e essas pessoas perdiam seus empregos”.

    “O homossexualismo, como era chamado, era um transtorno de caráter. Minha única chance de alcançar a “saúde”, minha única esperança de ser feliz era trocar de orientação. Passei cerca de 2 anos não só sem sexo, mas desisti de um amante, um homem com quem eu saía na época, pela pressão do grupo”.

    “Decidiram que sofreram o suficiente, que iam revidar. Os clientes, ao invés de aguentar calados, lançaram pedras e garrafas na polícia. Os distúrbios se prolongaram por alguns dias”.

    “Ao nos juntarmos e unirmos, ganhamos poder. Mesmo em pequenas comunidades, seja Kalamazoo ou Timbuktoo, nossas vozes são escutadas. Desde Stonehenge, até Stonewall, esta tem sido a luta, e nós estamos ganhando”.

    “Chega!”

    “Power gay! Power gay! Power gay!”



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