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PPGS003 - SEMINÁRIO DE PROJETO - Turma: 04 (2019.2)

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  • MIMI ESTÁ COM AIDS
  • 01/12/2019 21:29
  • Texto:

    TELA SOCIOLÓGICA: LA BOHÈME. 02/12/2019. 16 HORAS. SALA DE VÍDEO II (CCHL/UFPI). LA BOHÈME é a grande ópera de Giacomo Puccini transportada para a tela cinematográfica por Robert Dornhelm. O texto operístico narra o relacionamento amoroso entre a florista Mimi e o poeta Rodolfo. Em quatro atos, no contexto das imagens da vida boêmia da Paris do século 19, ouvimos as árias musicais que cantam as dores e as delícias dos amantes em suas boêmias aventuras. Em meio aos ais gozosos e dolorosos dos encontros amorosos, o drama fílmico mostra as vulnerabilidades e os riscos que mediam os envolvimentos afetivos e sexuais. Prazer com risco de vida. No sereno notívago, os poetas curtiam as suas damas das camélias. Entre risos e lágrimas, a pronúncia do “eu te amo” é nutrida de êxtases e dissabores. As juras de amor eterno esbarram nos limites das existências precárias. Beijos, carícias e afagos são interrompidos por tosses persistentes, anunciadoras da proximidade de um adeus. Sintoma patológico inesquecível, pois prenuncia separação. A triste partida de um pedaço do amante que fica. Eros e Tânatos no pulsar dos sujeitos em embriaguez amorosa. Em tísicos tempos, encontros e despedidas marcavam os romances boêmios.

    Nas memórias literárias, evoco uma clássica obra da literatura francesa: La Dame aux Camélias (1848), de Alexandre Dumas Filho. Um texto literário que desvenda as máscaras sociais de um contexto histórico francês onde as mulheres cortesãs eram vistas como “sujeiras” na defesa da sagrada honra familiar. Marguerite, julgada como “...uma moça que já foi de todo mundo”, encontra pedras no caminho da sua relação amorosa com Armand. Além dos preconceitos por conta da sua trajetória de ser mercadoria para “homens que compram o amor”, ela padece de tuberculose. “Cuspir sangue”, tristeza, palidez e magreza são a complementação patológica na vida de uma mulher que, além da enfermidade, enfrenta o martírio de uma sociedade moralista e estigmatizante. “Desviante” social, na lista dos outsiders, Marguerite está na relação das personagens literárias que experimentaram as proibições amorosas. Ela e Mimi, de La Bohème, saltam das páginas romanescas para o écran projetor das delícias e dores que marcam as comédias, tragédias e horrores das cenas exibidas nos cinemas. Na companhia das letras, os cineastas promovem diálogos intertextuais. Do livro para a tela, pensam a complexidade humana e as suas ambivalências.

    A Mimi, do século XXI, tem AIDS. Com 19 anos, ela é dançarina do Cat Scratch Club de Nova York e é uma das personagens da ópera-rock e do drama/musical RENT – OS BOÊMIOS, dirigido por Chris Columbus. Ao lado do amado Roger, tomam AZT. Sujeitos de vidas extremas, cantam as interrogações de quem recebeu um resultado positivo do teste de HIV: “Como se ligar ao outro em uma era onde estranhos, senhorios e amantes traem seu sangue?”. “Será que vou acordar amanhã deste pesadelo? Vou perder minha dignidade? Alguém vai se importar?”. Na urgência de suas arriscadas e vulneráveis existências e na perspectiva de um v(HIV)er positivo, seguem um lema: “Nenhum dia, além de hoje”. Ligados ao grupo “Apoio à Vida”, percorrem a trilha das boemias cotidianas. Nossos corpos dariam um romance. Nos livros, palcos e telas são representados os prazeres e os seus riscos nas vidas de quem pronuncia: “Viver faz mal à saúde”. As Mimis de todos os registros literários, teatrais e cinematográficos experimentam os “baratos” existenciais com os seus gemidos de gozo e dor.                                                                                                                                                                                                                                                          



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