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PPGS013 - TEORIA SOCIOLÓGICA I - Turma: 01 (2020.1)

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  • COM BAUMAN, FICO EM CASA E DOU VIVAS AO SUS
  • 27/03/2020 22:43
  • Texto:

    “Saúde e desigualdade” é o título de uma das “44 cartas do mundo líquido moderno”, endereçadas a nós por Zygmunt Bauman. Somos os destinatários, os habitantes de um planeta conduzido por lógicas individualistas e atolado em incertezas. Desequilíbrio na pronúncia dos pronomes eu e nós. No contexto pestilento da COVID 19, somos levados a repensar os caminhos e valores até então traçados para a condução das nossas vidas individuais e coletivas. Estamos em mais uma guerra. O inimigo é invisível. “Sou o coronavírus que você não vê”. “Fique em casa”. Ética da responsabilidade e solidariedade para a turbulência circunstancial. Cada um deve fazer a sua parte, mas a conjuntura cobra que focalizemos a palavra COLETIVO. Em atitudes fraternais, o toque para ver, sentir e cuidar de quem sofre. Não há vaga para a indiferença. A indignação é sempre bem-vinda diante de políticas perversas, desumanas e da loucura, cegueira e covardia de certas posturas diante dos surtos epidêmicos e das pandemias. Na cidade de Oran, de “A Peste”, de Albert Camus, “o flagelo era problema de todos” os que passaram a estar exilados, presos e separados. Na flagelação coletiva, o médico Dr. Rieux emite um discurso de combatente: “...Quando se vê a miséria e a dor que ela traz, é preciso ser louco, cego ou covarde para se resignar à peste”.

     As doenças promovem um strip-tease da realidade onde atuam. Uma lição dada por Herbert de Souza, o Betinho. Para os arautos da privatização de todas as áreas, defensores do Estado mínimo, somos aprisionados por uma situação na qual vemos a importância de valorizarmos as instituições públicas. Na hora do aperto, os agentes neoliberais vão pedir socorro aos recursos estatais. Hoje, o foco é para o campo da saúde. Estamos assistindo a cenas críticas de vulnerabilidades, medos e riscos nas quais desponta a relevante atuação dos sujeitos que trabalham nas instituições de pesquisa e assistência médica públicas. Viva a FIOCRUZ! É hora de aplaudirmos o SUS brasileiro. Sucateado mas indispensável. Viva a UPA do bairro periférico de Fortaleza. Acabemos com a nefasta mentalidade de associar os espaços públicos com “coisa de pobre”. Tal raciocínio preconceituoso conduz à falta de zelo por eles. É como se os pobres, nas suas carências e precariedades, ficassem satisfeitos com qualquer produto a eles direcionado. Demandam e merecem receber tratamento qualitativo. Aos movimentos sociais compete a pressão para que recebam uma qualitativa assistência. Os hospitais públicos constituem o grande laboratório para a formação dos profissionais da saúde. Reforço uma ideia: Os defensores da privatização desmedida, na hora dos gritos de socorro, diante das calamidades, vão atrás do tesouro público. Lembro dos socorros aos riquíssimos banqueiros nas épocas de quebradeiras do sistema financeiro e especulativo. As bolsas recebem injeções das verbas governamentais. Em casa e reflexivos, o contexto de isolamento social permite visualizar uma sacudida na racionalidade neoliberal que quer dominar o mundo. Saúde é uma área prioritária que demanda por um tratamento especial da parte de um Estado responsável. Administração sanitária pública e de qualidade. Os hospitais e clínicas particulares devem ter voz e vez, mas o destaque deve ser dado às instituições hospitalares públicas, gerais, voltadas para o atendimento da maioria da população. Acesso para todos(as). A mercadoria saúde não pode ficar refém dos interesses monetários elitistas, laboratoriais, excludentes e calculistas do mercado. Sem demonizá-lo, precisamos reforçar modelos de gestão mais inclusivos e coletivos. A mercantilização nesta área apresenta facetas escandalosas. Recentemente, uma conhecida rede de farmácias anunciava que abriria a sua “loja” de número 1000. O que está por trás de tal excesso? O facebook, sob o coronavírus, compartilha mensagem que reordena a prioridade: “Pela vida antes do lucro”. Uma pergunta: Na formação dos profissionais da saúde, em escolas públicas e privadas, qual o investimento que tem sido dado à sensibilização dos educandos para atentarem à saúde pública? Em ambiente doméstico, na companhia das letras, afeto materno, exercícios espirituais, discos e imagens fellinianas, escrevo as linhas antes traçadas provocado pelo seguinte disparo discursivo baumaniano. Números importam, mas é necessário ir além dos dados quantitativos. Em um exercício de imaginação sociológica, somos levados a pensar nas desigualdades e seus impactos sobre as nossas condições sanitárias:

    “Eles apelam para a consciência e também para nosso instinto de sobrevivência. Lançam um desafio ( e minam) à nossa indiferença moral e ao nosso letárgico senso ético, mas revelam, sem deixar qualquer margem de dúvida, que a ideia de buscar a felicidade e uma vida confortável tomando como referência unicamente o próprio indivíduo é um equívoco e uma ilusão; que a esperança de “chegar lá sozinho” é um erro fatal que vai de encontro aos próprios interesses da pessoa – como ilustra o feito do Barão de Münchausen, de tentar sair do pântano puxando-se pela peruca.

    É impossível nos aproximarmos desse objetivo afastando-nos dos infortúnios dos outros. Somente juntos poderemos travar essa luta contra os “males sociais” – ou a perderemos”.

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