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PPGS013 - TEORIA SOCIOLÓGICA I - Turma: 01 (2020.1)

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  • COM UM SOCIÓLOGO E UM CAMILIANO, FICO EM CASA
  • 08/04/2020 18:51
  • Texto:

    O sociólogo que atua na formação dos profissionais da saúde parte de algumas referências teóricas básicas. A doença como uma construção social. Para além de um vírus, fantasias, metáforas, culpabilizações e vôos imaginários são produzidos em torno das doenças. Somos biopsicossociais e multidimensionais. Ideia fundamental para desenvolvermos um olhar complexo sobre o processo saúde-doença. Este deve ser contextualizado do ponto de vista histórico. As patologias têm uma história social. Entre os seus capítulos, destacamos a epidemiologia, o impacto econômico da enfermidade e a resposta da sociedade civil às políticas públicas a ela dirigida. Entram em cena os movimentos sociais e a pronúncia do termo solidariedade. Falamos em doenças no geral, sem perder de vista as especificidades de cada uma delas. A COVID-19 não é uma simples gripe. A AIDS coloca questões não postas pelo câncer. Importa destacar os desdobramentos subjetivos do adoecer. Produção de sentidos e práticas discursivas são emitidas em torno das enfermidades. Na emissão discursiva, discursos médicos, religiosos e a fala subjetiva dos doentes. Uma sociologia compreensiva objetiva captar os significados produzidos sobre as experiências patológicas. A humanização no campo da saúde recebe um reforço dos conceitos sociológicos. Estes abrem para uma visão crítica sobre as relações conflituosas entre os diversos modelos médicos. O modelo biomédico em disputas com outras correntes médicas. Neste contexto de tensões, ganha visibilidade a mercantilização dos serviços clínicos, farmacológicos e terapêuticos. O contexto é o de um mal-estar em uma sociedade medicalizada, vulnerável, medrosa e de riscos. Em um mundo doente, a medicalização social é sinalizada pela presença excessiva de redes ou lojas de farmácias nos quarteirões das ruas onde moramos.  

    A Sociologia, no seu desvendamento, aborda as “influências culturais e materiais na saúde” e elenca uma ampla lista de fatores que produzem uma “saúde precária”: Falta de exercícios; estresse; baixo salário e pobreza; cuidados médicos e sociais inadequados e falta de acesso a serviços sociais e de saúde; falta de serviços acessíveis de lazer ou de acesso a parques e jardins; fumar e beber em excesso, usar drogas ilegais, não praticar sexo seguro; viver em uma área de alta criminalidade; falta de reforços à saúde e de segurança no trabalho; habitação precária, úmida, fria e saturada; não comprar ou preparar comidas adequadas; socialização e cuidados inadequados reservados à criança; planejamento de transportes e acesso ao transporte público precários; desemprego; comer refugo e outros alimentos não-saudáveis; viver em áreas industriais, com riscos de poluição, próximo a estradas movimentadas e com má qualidade de ar; isolamento e exclusão social – estar às margens da sociedade e ter pouco controle sobre a própria vida; longas horas de trabalho em condições estressantes e perigosas; educação precária (em particular com respeito à saúde) e ignorância sobre os cuidados à saúde e sobre serviços disponíveis. São 18 tópicos a serem considerados em uma leitura abrangente e aberta sobre a multiplicidade fatorial que condiciona o ser saudável ou não. Estamos diante de uma perspectiva analítica que engloba os inseparáveis fatores biológicos, psíquicos e sociais. Destaco a palavra-chave precariedade para a reflexão sobre as condições gerais em que vivem os sãos e os enfermos. Ancorado na “Sociologia do Corpo” de Anthony Giddens, fonte fornecedora da ilustrativa figura contendo os influentes condicionantes antes citados, o sociólogo lança reflexivas questões, entre as quais a seguinte: “O que poderia ser feito para reduzir as desigualdades nos sistemas de saúde?”.

    Na sequência, extraio da folhinha de um calendário franciscano a fala de um homem da bioética e sensível ao sofrimento dos pacientes terminais. Um discurso fundamentado em princípios teológicos, filosóficos e antropossociológicos. Promovendo diálogos ruptores de barreiras disciplinares, cito um texto do Pe. Leo Pessini com o qual encontro identificação. No título, uma interrogação: “O que entender por saúde?”. O pensador religioso expõe uma perspectiva lúcida e salutar:

    “A Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1948, definiu saúde como: “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças”. Nós acrescentamos ainda a dimensão “espiritual”. Esta definição clássica tem sido muito criticada pela sua visão idealista, utópica: Afinal, o que seria este “completo bem-estar”? É difícil mensurar algo tão subjetivo. Apesar da crítica, a definição nos mostra um horizonte de sentido a ser perseguido e que não basta apenas não estar doente, é necessário ter qualidade de vida. A saúde humana não pode ser vista separada e segregada do contexto maior em que o ser humano vive, mas interliga-se com os determinantes sociais, com o meio ambiente cósmico e ecológico”.

     



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