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PPGS013 - TEORIA SOCIOLÓGICA I - Turma: 01 (2020.1)

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  • ELKE MARAVILHA E KARL MARX NO SÃO JOÃO NA ROÇA DE GONZAGÃO
  • 10/06/2020 22:52
  • Texto:

    Luiz Gonzaga é barulhinho bom para todas as estações. Ontem, hoje e sempre. Junho é um mês especial para aprofundarmos a audição da sua ampla sonoridade. Trilha sonora clássica para os festejos juninos. É sertão, xamêgo e baião. São João na roça, aboios e vaquejadas. Sangue de nordestino nas veias de um artista tradutor das dores e delícias de viver nos brasis, em especial no chão do Nordeste. Andarilho da Belíndia ou Beláfrica brasileira. País de contrastes, desigualdades, exclusões e apartheids multicores. Uma Bélgica e uma África no interior do continente brasileiro de Alphavilles e Rocinhas. Aquarela tropical de aldeias, aldeotas, nortistas e sulistas. “Uma esmolinha, pelo amor de Deus!”. É o pedinte invisível e periférico, aperreando na porta do rico morador do bairro “nobre”. Na sua vida de viajante, Gonzaga percorreu as léguas tiranas de um sertão sofredor. De Juazeiro a Crato, de Teresina a São Luís, cantou as súplicas cearenses e as dos outros deserdados dos terrais brasileiros. Transportados em paus de arara, nos caminhos da fé, “baianos” e “paraíbas” migraram para as sulistas pauliceias desvairadas e “maravilhosas”, entoando o baião da garoa. Sanfoninha dourada e choradeira tocada por um sanfoneiro macho. Cidadão mestre do ABC do sertão de Mané Vito, Vitalino, Patativa do Assaré, Maria Bonita, Ariano Suassuna, Frei Damião e cego Aderaldo. Cabra da peste sensível aos apelos das vozes da seca e exemplar representante da brava gente brasileira. Joãos e Marias sofredores e gozadores. Pedros, Antônios e Sebastianas das lamentações e arraiais.

    Munido de pão e poesia, Luiz musicou as várias dimensões das nossas existências. Gonzagão amoroso, politizado, religioso, ecologista. Assum Preto, Sabiá, Acauã e Asa Branca batem asas no seu passaredo cancionista. Xote ecológico no riacho do navio, no mandacaru, na flor de laranjeira, na aromática açucena e no rio franciscano. Lua das noites brasileiras para xamegar com Orélia, Rosinha, Mariquinha, Carolina, Anita e Xanduzinha. Meninas morenas, de cinturas finas e cheirosas no imbalança da Madame Baião. Sanfona do povo empunhada pelo cantador de histórias das vidas e mortes severinas dos vaqueiros e roceiros sertanejos. Intérprete dos ais dolorosos e gozosos de quem geme sofrido e festeja alegre nas fogueiras e quadrilhas dos santos de junho. Política e festa nas existências profanas e sagradas dos romeiros rumo aos Roques Santeiros da fé religiosa brasileira. A Rainha do mundo, mãe do Jesus sertanejo e padroeira do Brasil católico recebe a devoção das beatas Mocinhas. Gratidão e louvação aos papais João Paulo II e João XXIII. Procissões na estrada do São Francisco de Canindé e o salmo dos aflitos no horto do Padre Cícero caririense. Ave Maria sertaneja para ancorar as ovelhas sem pastor, desamparadas pelos poderes ditos públicos.

    Repertório gonzaguiano com variações temáticas em torno das batalhas e pelejas cotidianas dos trabalhadores rurais. No trabalho com a vacaria, o pobre trabalhador, no tanger diário da boiada, esclarece: “Boiadeiro é o meu patrão”. O proprietário dos meios de produção é o Senhor “doutor”, o dono das vacas por ele arrebanhadas. Karl Marx de gibão de couro? Consciência crítica nas feiras de gado. Na malhada dos bois, o fole ronca e protesta no chão de Lulu vaqueiro. Resistência na cheia de 24, na secura de 15. Foles danados e roncadores nos momentos de leveza e dureza. Segue o arraiá porque “madruceu” o milho. Xotes, polcas, mazurcas, baiões, cocos e forrós concebidos e ritmados por quem trabalhou para um conjunto diversificado de herdeiros musicais. Luiz Gonzaga e os clássicos do Rei do Baião. É honroso poder interpretá-los. Personalidade artística referência para várias gerações de músicos. De A a Z, cantores(as) dos mais diversos matizes tonais e estilísticos, soltaram as suas vozes em reverência a um consagrado monumento da nossa memória cultural. Seguem os nomes d(i)scobertos dos(as) pescadores(as) das pérolas gonzaguianas:

    Alceu Valença, Alcymar Monteiro, Amelinha, Anastácia, André Rio, Angela Ro Ro, 5 a Seco, Ayrton Montarroyos, Banda Monomotor, B3 Organ Trio, Caetano Veloso, Carmélia Alves, Cátia de França, Célia, Chico Buarque, Chico César, China, Chitãozinho & Xororó, Chorando as Pitangas, Cida Moreira, Claudette Soares, Dalua, Daniel Gonzaga, Daniela Mercury, Dió de Araújo, Djavan, Dominguinhos, Ednardo, Edy Star, Ela, Elba Ramalho, Eliana Pittman, Elke Maravilha, Emilinha Borba, Fafá de Belém, Fagner, Filipe Catto, Flávio José, Forró In The Dark, Gaby Amarantos, Gal Costa, Genival Lacerda, Geraldo Azevedo, Gerson King Combo e a Turma do Soul, Gilberto Gil, Gonzaga Leal, Guadalupe, Ivan Lins, Jane Duboc, João Bosco, Joquinha Gonzaga, Jorge de Altinho, Jorge Aragão, Jussara Silveira, Karina Buhr, Lenine, Liv Moraes, Maciel Melo, Márcia Castro, Maria Alcina, Maria Bethânia, Maria Creuza, Marília Medalha, Marinês, Milena, Meretrio, Mestre Genaro, MPB-4, Nando Cordel, Nation Beat, Osvaldinho do Acordeon, Passoca, Paulo Neto, Quinteto Violado, Rastapé, Raul Seixas, Rolando Boldrin, Regional Imperial, Sérgio Reis, Silvia Machete, Silvia Maria, Simoninha, Tânia Alves, Thais Gulin, Trio Dona Zefa, Vanguart, Vânia Bastos, Virginia Rosa, Verônica Ferriani, Waldonys, Wanderléa, Ylana Queiroga, Zeca Baleiro, Zé Ramalho, Zezé Motta...

     



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