Esta pesquisa surgiu a partir das lacunas e desafios identificados pela autora durante suas vivências e observações em assentamentos entre 2018 e 2020. Durante esse período, ao trabalhar em uma chamada pública e prestar serviços terceirizados de assistência técnica nas áreas contempladas pela Política Nacional de Crédito Fundiário em Caxias–MA, foram constatadas diversas dificuldades enfrentadas pelos assentados e assentadas. Estas dificuldades incluem lutas diárias que afetam todos os membros do ciclo familiar, com um foco particular na juventude. Ao longo do tempo, esses jovens foram frequentemente invisibilizados/as ou marginalizados/as devido à sua vulnerabilidade etária, social, econômica e de gênero. Ser jovem rural em uma família de recursos limitados, no contexto da classe trabalhadora camponesa e com pouca ou nenhuma terra, evidencia como a sociedade patriarcal e capitalista pode anular as capacidades desses jovens como sujeitos/as de direitos. Isso motivou o interesse por compreender e interpretar as percepções destes jovens em relação à política de crédito fundiário, especialmente em resposta às queixas de pais e mães sobre a ausência de jovens, nas comunidades e a dificuldade que enfrentam, especialmente aqueles de idade avançada, para realizar atividades laborais e manter as atividades produtivas no campo. Os desafios enfrentados por camponeses e camponesas no Brasil estão profundamente ligados à questão agrária, que continua a desafiar as políticas públicas do país e a gerar conflitos políticos e sociais diversos. A questão agrária está diretamente relacionada ao surgimento de movimentos sociais no campo e às mudanças institucionais significativas, como o Golpe de 1964 e a subsequente ditadura militar (Schwarcz; Starling, 2015). Nesse cenário, esta questão permanece um tema relevante, permeando outras questões importantes, incluindo as dinâmicas e percepções juvenis abordadas neste estudo. Ao analisar as formas como a juventude tem sido abordada pela literatura no campo das ciências sociais, temos uma gama de possibilidades que perpassam diversos campos do conhecimento. Disciplinas como sociologia e antropologia, por exemplo, apresentam ampla produção e reflexão sobre as juventudes, desde a problematização do conceito até estudos mais pontuais que envolvem os e as jovens (Groppo, 2017).