ETNOBOTÂNICA E ETNOENTOMOLOGIA EM COMUNIDADES RURAIS DA SERRA DO PASSA-TEMPO, CAMPO MAIOR-PI
Conhecimento tradicional. Domínio cultural. Percepção entomológica.
Plantas bioativas.
O diverso uso das plantas é bastante difundido no Brasil, dadas as suas características
culturais e riqueza vegetal, especialmente nos espaços rurais. A pesquisa foi realizada nas
comunidades rurais Nova Vida e Passa-Tempo, situadas na Serra do Passa-Tempo, uma área
de transição cerrado/caatinga no município de Campo Maior, estado do Piauí. O proposito do
estudo foi: levantar as plantas medicinais, suas partes e as formas de uso pelos moradores das
comunidades; conhecer o domínio cultural de plantas inseticidas e repelentes e a existência de
consenso desse conhecimento; verficar como são conhecidos e percebidos os insetos pelos
entrevistados. No período entre julho de 2013 a agosto de 2014, através do método de
entrevistas por residência, formulários semiestruturados e listra livre foram aplicados em
todas as casas (n=31) das duas comunidades, perfazendo 63 entrevistados, dos quais, quatro
desses eram surdos-mudos, que para tal, foi necessário o auxilio de uma intérprete local.
Realizaram-se turnês-guiadas para as coletas botânicas que foram depositadas no Herbário
Graziela Barroso da Universidade Federal do Piauí. Coletas também foram procedidas para a
captura dos insetos, e os espécimes identificados foram incorporados ao Laboratório de
Fitossanidade da mesma instituição. Um total de 74 espécies de plantas medicinais foi citado,
usadas por meio de 14 preparações como: azeite, banho, cataplasma, decocto, garrafada,
inalação, infusão, in natura, lambedor, maceração, pó, suco, tintura e vinho-medicinal. A
espécie Chenopodium ambrosioides L. apresentou uma maior diversidade de uso medicinal
obtendo o valor máximo do índice de importância relativa (IR=2), e através do índice de fator
de consenso informante (FCI) verificou-se um maior consenso entre os informantes para o
conjunto de plantas usadas no tratamento de doenças da pele e do tecido subcutâneo (FCI=
0,67). Verificou-se também que os entrevistados definem o domínio cultural de plantas
repelentes e inseticidas pelo critério de uso, plantas utilizadas para espantar ou matar insetos
respectivamente. Ao todo, 18 espécies pertencentes ao domínio de plantas repelentes e
inseticidas foram citadas, que através do índice de saliência de Smith (IS) e das obeservações
feitas em campo como indicações e formas de uso, foi possível apontar cinco rupturas desse
conhecimento. A espécie com maior saliência cultural foi Azadirachta indica A. Juss. , que
juntamente com Croton campestres A. St. Hil foram definidas pela análide de consenso
cultural (CC) como as espécies que definem o consenso desse domínio dentro das comunides.
Na análise de escalonamento multidimensional (MDS) do grupo de entrevistados foi possível
visualizar dois grupos bem definidos, um formado por 29 entrevistados e outro por apenas um
definido a partir do seu conhecimento. Na análise do grupo de plantas, visualizaram-se pelo
MDS cinco agrupamentos definidos pelo critério de uso dessas espécies. Um total de 62
animais foi citado na etnocategoria inseto, dos quais, 28 não pertencem à classe Insecta. Tal
motivo repousa na forma como os entrevistados percebem esses animais, que em geral é de
forma negativa, como organismos portadores de alguma nocividade, causadores de injúrias,
ofensas, e perturbações, o que corrobora a hipótese da ambivalência entomoprojetiva. No
entanto, os insetos também foram adjetivados como animais bons, pois em geral possuem
alguma função ou valor atribuído. Na visão dos entrevistados, os insetos podem prever
situaçãoes futuras, ou seja, entomoáugures. Viu-se também que aspectos relacionados a
biologia desses animais são percebidos pelos informantes. Entende-se que as comunidades
estudadas possuem um rico conhecimento etnobiológico, no que se refere a plantas
medicinais, repelentes e inseticidas e o direcionado aos insetos. As plantas bioativas indicadas
no estudo necessitam ser testadas fitoquimicamente para dar segurança a esses às
comunidades rurais.