O Lugar da morte no ensino da medicina
Educação, Morte, Ensino, Medicina.
O ensino da Medicina atual prepara o futuro médico para lidar com uma Medicina morta, sem alma, de maneira prática e emocionalmente infértil. O médico, em seu exercício, é diariamente acometido por estimulações que o incitam a esconder ou não expressar seus sentimentos em relação ao sofrimento ou à morte de um paciente. Cada vez mais, valoriza-se o diagnóstico e a cura, relegando-se a segundo plano o cuidado com o ser humano com prognóstico desfavorável, seja com ausência de planejamento paliativo ou pelo excesso de investimentos intensivos que dificultam o percurso natural do fim da vida. Este modo indiferente de agir diante da morte denota uma relação com a insuficiência do aporte teórico adotado para subsidiar a formação médica em situações de finitude da vida. Para melhor compreender este cenário, analisa-se o ensino sobre a morte nos cursos de Medicina do Estado do Piauí, averiguando a existência de conteúdos relativos ao tema nos projetos pedagógicos dos referidos cursos, através de um estudo descritivo e exploratório com abordagem qualitativa, do tipo análise documental, realizado em cinco IES do Estado do Piauí que ofertam o curso de Medicina, a partir da análise de terminologias que abordassem o tema morte em seus projetos pedagógicos dos cursos. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, com o número de protocolo: 50747815.5.0000.5214. Os resultados apontaram deficiência considerável de conteúdos e de disciplinas que fomentem, minimamente, a educação para a morte na graduação. A pesquisa verificou a necessidade de criação de projetos no ensino da Medicina que contemplem a temática morte como foco de discussões e de reflexões, para que seja possível o compartilhamento das angústias, dos desconfortos e dos sentimentos de dor, como forma de tornar mais humano o ofício do futuro médico, com repercussões positivas no trato de pacientes e familiares. A educação para a morte não arreda a angústia inerente do morrer, mas proporciona um ambiente psicológico seguro e equilibrado para que o médico possa promover uma melhor autorregulação de suas emoções e dignificar a partida de quem está se despedindo da vida.