RESUMO
Introdução: O calazar, também conhecido como leishmaniose visceral (LV), é uma grave doença infecciosa de grande relevância epidemiológica, causada por protozoários do gênero Leishmania, transmitidos principalmente por flebotomíneos (ABONGOMERA et al., 2020; BELO et al., 2014; OLIVEIRA et al., 2018). Em âmbito global, a LV representa um grande problema de saúde pública, afetando diversas regiões tropicais e subtropicais, com elevada incidência em países em desenvolvimento. Nesses locais, as condições socioeconômicas precárias e a infraestrutura de saúde insuficiente favorecem a propagação do parasita (AKHOUNDI et al., 2016; BRAGA et al., 2013; LAINSON et al., 2005; POSTIGO et al., 2010). As manifestações clínicas da LV incluem febre prolongada, esplenomegalia, palidez e perda de peso, que podem levar à desnutrição e ao comprometimento do estado geral dos pacientes, resultando em alta morbidade e mortalidade, caso não sejam diagnosticados e tratados adequadamente (ABONGOMERA et al., 2020; ADEME et al., 2023).
A anemia é uma complicação comum em pacientes com leishmaniose visceral, e sua etiologia é multifatorial, envolvendo uma complexa interação entre infecção, esplenomegalia, resposta imunológica e alterações no metabolismo do ferro (BOGDAN et al., 2024; COSTA et al., 2010; VARMA et al., 2010). A inflamação crônica, desencadeada pela infecção, resulta na produção de citocinas pró-inflamatórias, como a interleucina-6 (IL-6) e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), que desempenham um papel crucial na regulação da hepcidina, uma proteína-chave na homeostase do ferro (COSTA et al., 2009; COSTA et al., 2013; LODI et al., 2024). O aumento da hepcidina, por sua vez, leva à inibição da absorção intestinal de ferro e à diminuição da sua mobilização dos depósitos, dificultando a produção de glóbulos vermelhos e exacerbando a anemia (CASTRO-MOLLO et al., 2021; SANGKHAE et al., 2017).
Assim, a anemia de doença crônica, frequentemente observada em infecçõespersistentes, como o calazar, caracteriza-se por alterações no metabolismo do ferro mediadas pela resposta inflamatória. Nesse contexto, a anemia não se configura apenas como um marcador de gravidade da doença, mas também como um fator que pode influenciar o prognóstico e a resposta ao tratamento (ADEME et al., 2023; THEURL et al., 2009; TICHIL et al., 2024).
A compreensão da interação entre a atividade inflamatória e o metabolismo doferro é fundamental para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas eficazes na gestão da leishmaniose visceral. Identificar biomarcadores inflamatórios e suas correlações com parâmetros hematológicos e do metabolismo do ferro pode oferecer insights valiosos para o manejo clínico e o direcionamento de intervenções terapêuticas.
Neste estudo, buscou-se investigar a relação entre a hepcidina, a esplenomegalia, a atividade inflamatória e as alterações no metabolismo do ferro em pacientes diagnosticados com leishmaniose visceral. Por meio da avaliação da correlação entre esses marcadores, pretende-se contribuir para um entendimento mais aprofundado da fisiopatologia da LV. Ademais, a identificação de fatores que influenciam a gravidade da anemia pode aprimorar o manejo clínico da doença, além de abrir novas possibilidades para intervenções terapêuticas que visem melhorar os desfechos clínicos e a qualidade de vida dos pacientes afetados pelo calazar.