RESUMO
Introdução: O aumento da longevidade é uma grande conquista dos tempos modernos, mas também apresenta desafios importantes, especialmente na preservação da autonomia dos idosos. Após internações em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), esses desafios se intensificam, pois a imobilidade prolongada pode acelerar a perda de massa muscular, levando à atrofia muscular e à redução da mobilidade. Essa condição prejudica a recuperação, dificultando a realização de atividades diárias e impactando negativamente a qualidade de vida dos idosos. Por isso é fundamental ampliar o entendimento sobre as alterações morfométricas musculares e o estado funcional de mobilidade nesse grupo de idosos críticos, que ainda é pouco explorado na literatura e merece maior atenção para fundamentar melhores cuidados e resultados clínicos. Objetivo: Avaliar alterações na mobilidade e na morfometria muscular de idosos internados em unidades de terapia intensiva, além de identificar fatores relacionados a essas modificações. Métodos: Trata- se de um estudo quantitativo, analítico e transversal, realizado na UTI de um hospital público em Teresina-PI, entre junho e novembro de 2024. Foram incluídos 32 pacientes idosos. Os dados foram coletados em até 48 horas após a admissão e até 48 horas após a alta da UTI, utilizando a escala IMS (ICU Mobility Scale) para avaliar a mobilidade e ultrassonografia muscular para mensurar a espessura do músculo quadríceps (EMQ) e área de secção transversa do reto femoral (ASTRF). Além disso, foram coletadas variáveis dos prontuários, como idade, sexo, início da mobilização, tempo de internação, uso de sedação, bloqueadores neuromusculares (BNM), drogas vasoativas (DVAs) e ventilação mecânica invasiva (VMI). Foram realizados os testes de correlação de Pearson de regressão linear e para comparação entre variáveis, foi aplicado o teste t, considerando estatisticamente significante o p ≤ 0,05. Resultados: Houve uma redução de 77% entre a mobilidade prévia à internação e a alta da UTI (p < 0,0001). Já entre a admissão e a alta, constatou-se uma elevação de 20% do IMS, porém sem significância (p = 0,4251). Verificou-se uma redução significativa de -23% na EMQ (p = 0,0003) e de -30% na ASTRF (p < 0,0001) entre a admissão e a alta da UTI. A diminuição na ASTRF se correlacionou significativamente à queda do IMS (r = -0,4051; p = 0,0215). A redução da EMQ se correlacionou com um maior tempo de internação (r = 0,5922; p = 0,0004), uso de sedativos e BNM (r = 0,4293; p = 0,0142), maior tempo de VMI (r = 0,6533; p < 0,0001) e início tardio da mobilização (r = 0,5279; p = 0,0019), sendo esses os principais preditores de sua redução: maior tempo de VMI (t = 2,714, p = 0,012) e uso de DVA(t = 0,933, p = 0,040). Conclusão: Este estudo concluiu que os idosos internados na UTI sofreram uma redução significativa tanto do tecido muscular quanto da mobilidade funcional. Essa perda foi influenciada por fatores como maior tempo de internação, uso de sedativos, BNMs, VMI e atraso no início da mobilização. Dentre esses, os principais preditores da atrofia muscular foram o tempo em VMI e o uso DVAs. Os resultados fornecem evidências quantitativas da relação entre a perda de massa muscular e o declínio funcional, reforçando a importância da mobilização precoce e da limitação do uso prolongado de sedativos, BNMs, DVAs e VMI. Além disso, o estudo oferece base para futuras pesquisas intervencionistas que visem mitigar a atrofia muscular e promover uma melhor recuperação funcional em idosos críticos.