Este trabalho tem por objetivo geral compreender as diferentes representações, saberes, práticas e políticas de assistência psiquiátricas desenvolvidas no Piauí entre os anos de 1965 e 1985. Inicialmente, buscaremos analisar a constituição da psiquiatria nova e da psiquiatria tradicional percebendo como elas foram apropriadas pelos discursos da imprensa piauiense na construção de diferentes representações à cerca do louco, da loucura e das principais instituições de assistência psiquiátrica que funcionavam no Piauí durante o período militar. Esses jornais foram uma importante ferramenta de legitimação dos saberes, atores e instituições que estavam ligadas à definição e o tratamento da loucura no Piauí. Ao mesmo tempo, também percebemos que os jornais eram importantes espaços de produção de representações que ajudaram a construir, junto a população do estado, as concepções sobre o que seria o louco, a loucura, suas causas e suas formas de tratamento. Na sequência buscamos dar conta da institucionalização e medicalização da loucura no Piauí. Para isso, fazemos um apanhado sobre o surgimento do Asylo de Alienados Areolino de Abreu, no início do século XX e acompanharemos o desenrolar do seu funcionamento e sua relação com as diferentes políticas de assistência psiquiátricas vigentes na primeira metade do século XX. Por fim, nos dedicamos à análise do funcionamento do Hospital Areolino de Abreu e as formas de tratamento oferecidas por esta instituição. Dialogamos com as políticas de assistência psiquiátrica desenvolvidas, em especial, nos governos Vargas e Juscelino Kubitschek, bem como suas relações com o contexto local. Na última parte nos voltamos para a análise do funcionamento do HAA e suas relações com as políticas de assistência psiquiátricas durante o regimente militar. Nossa proposta é apresentar o tipo de assistência psiquiátrica que era disponibilizada no Piauí e compará-la com o que preconizava o governo federal. Acreditamos que as políticas públicas de assistências psiquiátrica estabelecidas pelo governo federal, no período que vai de 1965 a 1985, se efetivaram com bastante atraso no Piauí resultando numa assistência obsoleta e muitas vezes anacrônica frente aos preceitos mais modernos da Psiquiatria da época. Além disso, ao analisarmos as ideias e propostas dos psiquiatras piauienses, percebemos que, muito embora esses sujeitos fossem formados em grandes faculdades, trazendo em sua formação conceitos da psiquiatria nova, ao chegarem no HAA eles se deparavam com uma realidade adversa tendo que adaptar seus saberes as condições concretas de trabalho com as quais lidavam. Para a realização dessa pesquisa busquei dialogar com Roy Poter (2004) que nos mostra que as doenças apresentam capacidade de mobilização pois do pavor da doença, potencial e efetiva. Dessa forma, as pesquisas que tomam como objeto de estudo determinadas doenças e os saberes e práticas relacionadas a elas, pressupõe uma análise que se situa entre o biológico e o social. Também recorri aos estudos de Peter e Revel (1988) que afirmam que as doenças representam um lugar privilegiado a partir do qual podemos observar o funcionamento dos mecanismos administrativos, as relações entre os poderes e a imagem que uma sociedade tem de si mesma. Também utilizaremos o conceito de representação social de Herzlich (2013). Para ele, a representação social de uma doença deve ser compreendida como um saber socialmente compartilhado, que se sobrepõe às interpretações, atitudes e decisões individuais dos sujeitos e desempenha a função de orientação. Outro aspecto relevante é que através da representação social da doença podemos chegar à questão da disseminação de uma teoria científica. |