A caquexia é definida como uma síndrome multifatorial resultante da perda contínua e involuntária de músculo, com ou sem depleção de gordura. Acomete 80% dos pacientes com câncer avançado e é a principal causa de morte em 30% desses indivíduos. A progressão da caquexia está associada a alterações metabólicas significativas, resultando em aumento do gasto energético, catabolismo e prejuízo na funcionalidade das células. A depleção de tecido adiposo branco (TAB) e sua concomitante mudança para tecido adiposo marrom (browning), representam uma má adaptação fisiológica, que agrava a perda de peso e a disfunção metabólica decorrentes da caquexia associada ao câncer. Apesar do crescente número de estudos focados na relação entre caquexia e desordens metabólicas, os mecanismos envolvidos permanecem complexos e pouco elucidados. Assim, investigou-se os efeitos deletérios da caquexia associada ao câncer sobre o balanço energético. A caquexia foi induzida pela inoculação intraperitoneal de células tumorais Yoshida AH-130 em ratos Wistar. Os animais do grupo controle receberam substância veículo. Peso corporal e consumo de ração foram avaliados diariamente durante sete dias de protocolo. A captura das imagens termográficas para determinação da temperatura do tecido adiposo marrom (TAM) ocorreu nos tempos 0, 4 e 7 dias. Tumor, TAB (epididimal, retroperitoneal e mesentérico), TAM e músculo gastrocnêmio foram coletados e pesados. Em seguida, procedeu-se a análise histológica das amostras de TAB epididimal e de TAM, bem como, avaliação da expressão de genes relacionados ao balanço energético no TAB epididimal. Foi observado progressão tumoral, redução do peso corporal, juntamente com o índice de caquexia, e depleção de gastrocnêmio nos animais do grupo tumor. A caquexia determinou redução do consumo de ração e da eficiência metabólica. No TAB epididimal houve incremento do peso e aumento do tamanho dos adipócitos, enquanto os depósitos retroperitoneal e mesentérico não foram alterados. Por outro lado, observamos redução do TAM. Os animais caquéticos também manifestaram aumento da expressão dos genes FAS e LPL no TAB epididimal e redução na temperatura do TAM ao final do protocolo. Logo, o modelo de caquexia associada ao câncer foi bem estabelecido e caracterizado. A caquexia promoveu expressiva redução no consumo alimentar e respostas heterogêneas entre os depósitos de tecido adiposo, evidenciado pelo tecido adiposo epididimal que apresentou incremento da lipogênese e pela depleção de tecido adiposo marrom.