A vitamina D (VitD) compreende o grupo de moléculas secosteroides lipossolúveis que está
relacionada a diversas funções orgânicas. Além da sua função no metabolismo ósseo, a VitD
também está envolvida na modulação do sistema cardiovascular e do sistema nervoso central,
sugerindo assim o seu papel na fisiopatologia das doenças cardiovasculares (DVC) e nas
desordens mentais. O objetivo da tese foi demonstrar a relação das concentrações sanguíneas
de VitD com as DCV, com a hipertensão arterial sistêmica (HAS) e com os transtornos mentais
comuns (TMC), bem como avaliar a deficiência de VitD como fator de risco para estas
patologias. A tese é composta por três capítulos que compreende uma revisão sistemática e dois
estudos de corte transversal a partir de dados da pesquisa de base populacional “Inquérito de
Saúde Domiciliar no Piauí” (ISAD-PI). O capítulo 1 é uma revisão sistemática de estudos
observacionais sobre os efeitos das concentrações sanguíneas de VitD nas DCV que utilizou
artigos das bases de dados National Library of Medicine (PubMed), Scopus, Science Direct e
Web of Science. A qualidade da evidência dos artigos foi avaliada pela escala Newcastle-Ottawa
e seguiu-se as recomendações do PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews
and Meta-Analyses). O Capítulo 2 utilizou dados sociodemográficos, de estilo de vida,
antropométricos, HAS, VitD e consumo alimentar de 228 indivíduos (≥20 anos), de ambos os
sexos, associadas a presença ou ausência de HAS. O capítulo 3 utilizou dados
sociodemográficos, estilo de vida, antropométricos e TMC de 262 indivíduos (≥20 anos), de
ambos os sexos, associados a presença ou ausência de TMC. Nos resultados do capítulo 1, os
estudos elegíveis demonstraram que as baixas concentrações sanguíneas de VitD estavam
associados com aumento do risco de eventos cardiovasculares e de morte por DCV, bem como
em pacientes que possuíam DCV pré-existente. No capítulo 2, houve associação apenas para os
indivíduos não hipertensos com o status da VitD, com maior prevalente de deficiência de VitD
na faixa etária de 20 a 34 anos (55,6%), sem companheiro(a) (57,1%), que consomem álcool
(61,9%) e com menor consumo de alimentos do grupo in natura e minimamente processados
(620,2 kcal) e maior consumo de alimentos ultraprocessados (243,8 kcal). Além disso, os idosos
(≥60 anos) com deficiência de VitD apresentaram uma razão de prevalência para a HAS de 1,71
(IC 95%: 1,15-2,55) no modelo ajustado. No capítulo 3, verificou-se menor concentração
sanguínea de VitD para os indivíduos com TMC (24,3 ng/mL), em ambos os sexos,
principalmente na faixa etária 20 a 59 anos (23,9 ng/mL), com companheiro(a) (21,6 ng/mL),
ensino fundamental completo (22,1 ng/mL), renda familiar <2 salários-mínimos (25,0 ng/mL),
cor de pele preto (18,9 ng/mL), que pratica atividade física (23,3 ng/mL) e quem consome
álcool (16,9 ng/mL). A deficiência de VitD foi um fator de risco para TMC (RP:1,67; IC95%:
1,14-2,44), principalmente no sexo feminino e em idosos. Com isso, observou-se uma relação
inversa entre as concentrações sanguíneas de VitD e a presença de eventos cardiovasculares,
HAS e TMC.