Na dermatologia, persiste a tradição morfológica de obtenção de dados essencialmente qualitativos. A estereologia é um conjunto de técnicas que combinam estatística com observações bidimensionais, para obter informações quantitativas sobre características tridimensionais. Desta forma, permite a obtenção de dados matemáticos, os quais são mais fidedignos que hipóteses baseadas exclusivamente em evidências morfológicas qualitativas. Ao contrário de outros roedores, na espécie cutia (Dasyprocta prymnolopha), pouco se conhece sobre estratos epidérmicos e anexos cutâneos, perdurando significativas incertezas sobre a caracterização da pele saudável. O objetivo deste projeto foi Investigar as possíveis variações estereológicas e ultraestruturais no volume absoluto dos estratos epidérmicos e anexos cutâneos da pele saudável de cutias. Foi adotado um delineamento casualizado, composto de 10 cutias saudáveis, divididas em dois grupos, nomeados conforme o sexo do animal, machos (GM) e fêmeas (GF). Foram avaliadas três amostras de pele saudável, de cada animal, obtidas de quatro pontos anatômicos: região dorsal tóraco-lombar, região plantar do coxim do membro pélvico, região ventral mesogástrica e região lateral da articulação do joelho. As amostras cutâneas foram processadas histologicamente para análise em microscopia óptica e de força atômica. Foram avaliadas 120 amostras, 60 para cada sexo. As variáveis mensuradas foram volume absoluto dos estratos basal (VEB), espinhoso (VEE), granuloso (VEG), lúcido (VEL), córneo (VEC), folículo piloso (VFP), glândulas sebáceas (VGS), glândulas sudoríparas (VGU), fibroblastos (VFB) e colágeno (VCO). Identificaram-se relevantes diferenças morfológicas quantitativas e qualitativas nas amostras de biopsia avaliadas, referentes a pele fina e pele espessa. A pele fina de cutias apresenta aumento do volume de glândulas sebáceas, quando comparado a outras espécies. A organização destas glândulas, visualizadas por microscopia de força atômica, sugerem uma apresentação como extrato independente. Tal característica é particular na pele fina da espécie estudada e não foram identificadas similaridades com outras espécies. Analogamente, o extrato espinhoso é mais desenvolvido na espécie cutia que outros roedores tomados em comparação, com os corneodesmossomos identificados em microscopia de força atômica apresentando projeções cruzadas evidentes. Ao contrário de outros roedores, o extrato mais desenvolvido na espécie cutia é o extrato basal, denotando relevante atividade mitótica para reposição celular. A região de joelho não se mostrou espesso como acontece nas demais espécies e região de coxins foi a mais espessa dentre analisadas. Na região de pele espessa não foi evidenciado extrato lúcido na microscopia de força atômica como comumente é verificado em inúmeras outras espécies. Desta forma, a pele de cutias apresenta relevantes diferenças em relação a outros roedores, apresentando aumento do volume de fibras sebáceas e do extrato basal em pele final e predominância do extrato espinhoso, como projeções manométricas cruzadas múltiplas evidenciando corneodesmossomos mais desenvolvidos que em outros roedores.