FATORES ENVOLVIDOS NA INSTABILIDADE ENZOÓTICA PARA BABESIOSE BOVINA NA BACIA LEITEIRA DE PARNAÍBA, PIAUÍ
Babesia bigemina; Babesia bovis; epidemiologia; instabilidade enzoótica; transmissão transovariana; temperatura.
Babesiose bovina é uma enfermidade causada pelos hemoprotozoários Babesia bovis e Babesia bigemina e que apresentam como vetor o carrapato Riphicephalus microplus, sendo responsável por importantes perdas na pecuária brasileira e mundial. A dinâmica da infecção é dependente de fatores como população de carrapatos infestantes, susceptibilidade dos bovinos, fatores climáticos e manejo. Dessa forma, objetivou-se determinar a dinâmica da infecção natural por meio da primo-infecção e das práticas de manejo, além de avaliar a taxa de infecção em teleóginas e a influência da alta temperatura na transmissão transovariana de Babesia spp. pelo R. microplus em área de instabilidade no Meio Norte do Brasil. O estudo foi realizado em duas propriedades com diferentes manejo para exploração leiteira pertencente à uma área de instabilidade enzoótica para babesiose bovina, sendo coletadas amostras de sangue de 30 bezerras a cada 15 dias por 12 meses para determinação da primo-infecção por meio da PCR e do volume globular (VG). Para avaliar a influência da temperatura sobre a transmissão transovariana foram utilizadas 349 teleóginas provenientes de 27 bezerros positivos para Babesia spp., as quais foram divididas em três grupos: grupo 1 (27 ºC), grupo 2 (31 ºC) e grupo 3 (35 ºC) com 117, 113 e 119 amostras, respectivamente e incubadas em estufa BOD com 80% UR para oviposição. Nos grupos de 31º e 35ºC a temperatura permaneceu elevada por quatro horas/dia retornando à 27ºC. Ao 7º dia de postura, foi realizado o teste de hemolinfa para pesquisa de esporocinetos e, ao 17º dia, foram extraídos DNA dos ovos para realização da PCR. A análise estatística foi realizada pelo teste do Qui-quadrado e teste não paramétrico de Kruskal-Wallis e as comparações das médias realizado pelo teste t de Student. A análise dos dados bioclimatológicos revelou que a região estudada encontra-se quente e seca em maior parte do ano, com duas estações bem definidas, com a média máxima variando entre 31,4 e 35°C. Na propriedade A, a primo-infecção para B. bigemina determinada pela PCR demonstrou amplificação de DNA aos 249,4 (± 24,42) dias de idade, enquanto que para B. bovis mais tardiamente, aos 252,6 (± 17,07) dias de idade, não existindo diferença estatística (p>0,05). Essa infecção coincidiu com o período em que a precipitação pluviométrica na região foi mais alta. Já na propriedade B não foi observada primo-infecção. A média do VG nas diversas faixas etárias, das bezerras nascidas na propriedade A variou de 24,9% a 32,2% e nos animais da propriedade B essa variação foi de 29,2% a 30,6%, não existindo diferença estatística significativa (p>0,05) entre as propriedades. Das lâminas de hemolinfa analisadas, 35,82% (125/349) foram positivas, porém não houve diferença significativa (p>0,05) entre as temperaturas analisadas. Já pela PCR dos ovos, apenas 17,48% (61/349) das amostras foram positivas, sendo 29,9% (35/117) no grupo 1; 15,0% (17/113) no grupo 2 e 14,3% (17/119) no grupo 3, demonstrando uma redução significativa (p<0,05) da transmissão transovariana a medida que aumenta a temperatura. O tipo de manejo nas propriedades estudadas, associado às práticas de controle indiscriminado, interfere na exposição dos animais aos seus vetores, podendo influenciar o surgimento de surtos da babesiose bovina. Além disso, as temperaturas elevadas encontradas na região sugerem uma redução na transmissão transovariana de Babesia spp., favorecendo a manutenção de uma área de instabilidade enzoótica no Meio Norte do Brasil.