É possível observar o surgimento de questionamentos acerca da utilização dos recursos naturais como mercadoria a partir de relações estabelecidas entre sociedade e natureza, principalmente após a primeira revolução industrial. Tais questionamentos transformam-se em preocupações quando o surgimento de diversas formas de uso desenfreado dos ambientes naturais são superiores à capacidade de suporte dos mesmos. Neste ínterim, a análise da compartimentação geomorfológica por meio de uma visão sistêmica torna-se de extrema importância para que se possa compreender essa relação sociedade e natureza, que tem se intensificado de forma considerável em função do desenvolvimento econômico. Neste sentido, a presente pesquisa tem por objetivo geral analisar a complexidade do meio físico de São Miguel do Tapuio, Estado do Piauí, a partir da abordagem sistêmica, tendo em vista subsidiar o ordenamento territorial do mesmo, destacando suas vulnerabilidades, potencialidades e limitações. Os objetivos específicos aqui propostos foram: 1) caracterizar os aspectos ambientais do município de São Miguel do Tapuio, Piauí (geologia, hidrografia, clima, associações de solos e NDVI); 2) elaborar mapa de compartimentação geomorfológica, conforme Ross (1992); 3) realizar mapeamento da cobertura vegetal do município de São Miguel do Tapuio utilizando o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) do ano de 2017; 4) Elaborar mapa com as classes de vulnerabilidade ambiental para o município de São Miguel do Tapuio, considerando a metodologia de Crepani et al. (2001). Como resultados, foram identificadas as seguintes unidades geomorfológicas e suas respectivas vulnerabilidades ambientais: Superfície de Cimeira (40,9% Moderada e 58,7% Moderadamente alta); Reverso superior seco da cuesta da Ibiapaba moderadamente dissecado (44,9% Moderada, 55% Moderadamente alta e 0,1% Alta); Reverso inferior seco da cuesta da Ibiapaba moderadamente dissecado (32% Moderada, 60,6% Moderadamente alta e 7,5% Alta); Formas tabulares muito dissecadas (0,03% Baixa, 39,3% Moderada, 60,2% Moderadamente alta e 1% Alta); Formas tabulares dissecadas (43,2% Moderada e 61,7% Moderadamente alta); Vales (9,9% Moderada, 64,5% Moderadamente alta e 25,4% Alta); Áreas de inundação sazonal com relevo movimentado (1,4% Moderada, 91% Moderadamente alta e 7,5% Alta). Com base nisso, constata-se que unidades que apresentam menores vulnerabilidades correspondem à Superfície de Cimeira, Reverso superior seco da cuesta da Ibiapaba moderadamente dissecado e Superfícies tabulares dissecadas. As unidades que apresentaram uma maior vulnerabilidade compreendem o Reverso inferior seco a cuesta da Ibiapaba moderadamente dissecado, Formas tabulares muito dissecadas, Vales e Áreas de inundação sazonal com relevo movimentado. Para que se fizesse possível o mapeamento da vulnerabilidade ambiental utilizaram-se parâmetros como a evolução geológica e grau de coesão das rochas para a delimitação da vulnerabilidade do fator Geologia; Declividade Média; Erodibilidade dos solos; e NDVI para cobertura vegetal. Neste sentido, constatou-se que o município apresentou 0,01% na classe de Baixa vulnerabilidade, 26,4% na classe Moderada vulnerabilidade, 63,9% na classe Moderadamente alta vulnerabilidade e 9,5% na classe Alta vulnerabilidade. Os dados alcançados pela presente pesquisa permitem aferir que o município estudado apresenta condições ambientais que necessitam de medidas de ordenamento territorial que forneçam subsídios para proteção de suas áreas, uma vez que no mesmo foram identificadas áreas mais vulneráveis e menos vulneráveis de acordo com os fatores físicos utilizados para a sua análise. Espera-se que a presente pesquisa possa contribuir com ações posteriores de planejamento territorial para fins de sustentabilidade no município de São Miguel do Tapuio, Piauí, servindo como ponto de partida aos estudos relativos a esta área geográfica do Estado.