Na geopolítica recente, inúmeros projetos de lei para redividir os estados Brasileiros encontram-se em trâmite na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, estando incluso, dentre eles, a proposta de criação do estado do Gurgueia. A cogitação do desmembramento e o consequente desejo de criação do estado do Gurgueia são sentimentos vivenciados desde meados do século XX, quando o então senador, pelo Piauí, Joaquim de Lima Pires Ferreira já chamava a atenção para o caso, fortalecendo-se a realização desse propósito a partir da instalação do processo da Assembleia Nacional Constituinte de 1987/88. Posta a abrangência da questão divisionista e a efervescência da mesma na esfera local, é oportuno apontar que o conteúdo é permeado de interesses, que se dão, sobretudo, no campo econômico. Entretanto, determinados elementos desse desejo fazem revelar também um viés de justificação para além do puramente econômico, o que faz supor a construção da imagem do Gurgueia em uma realidade para além da busca pela superação das limitações econômicas e financeiras que envolvem um povo, ou seja, haveria, ainda, como motivação para a análise, um cenário de produção, por detrás e em paralelo, de hábitos mentais acerca dos ideais divisionistas envolvidos nessa querela, uma vez que, os habitantes dali se sentem identificados com a condição de “gurgueienses”, mas não descrevem, de fato, o que os levam a se sentirem assim, do mesmo modo que sentem-se pertencer, mas sem saber exatamente a quê! Tem-se como objetivo geral pensar a criação/construção de um sentimento de identidade e de pertença espacial na legitimação da proposta de criação do estado do Gurgueia. Especificamente, objetiva-se: i) identificar a natureza dos traços de identidade naquela delimitação proposta para ser, caso se efetive, a extensão do estado do Gurgueia ii) saber o papel do sentimento de identidade na legitimação da proposta de criação do estado do Gurgueia; iii) inferir os agentes produtores dos discursos identitário relativos ao estado do Gurgueia. Esta investigação apoiou-se em procedimentos metodológicos na forma de levantamentos bibliográficos e documentais. Terá ainda a realização da pesquisa direta, de caráter exploratório (realização de entrevistas e a consequente análise do discurso), com a eleição do município de Bom Jesus, como recorte espacial, aplicando-se ali os instrumentos de coleta de dados primários, na perspectiva de uma pesquisa qualiquantitativa. Neste estudo foram tomados como referências pesquisadores como Castells (2008), Façanha e Soares (2010, 2016) Silva (2008), etc. Os achados desta investigação apontaram, até o momento, para as conclusões no sentido de afirmar que a naturalização da identidade não lhe é próprio e, muito menos corresponde à maioria dos casos recentes de manifestação identitária. Para a pesquisa em sua totalidade, há a hipótese de que há a presença das (neo)oligárquicas na produção (ideológica) identitária para o alcance de fins particulares, o que faz deduzir o estado do Gurgueia como uma invenção que se destina à emergência de fazer erigir mais um espaço de poder.