O Cerrado brasileiro tem sido classificado como um ecossistema de características ecológicas bem marcantes, sendo uma delas a sua dependência do fogo, que apresenta importância tanto nos diversificados efeitos ecológicos que exerce, quanto como ferramenta de manejo de áreas com fins conservacionistas. No Cerrado, a ocorrência periódica de incêndios florestais em Terras Indígenas (TIs) tem causado sensíveis prejuízos socioambientais às comunidades locais, apesar de suas fitofisionomias vegetais apresentarem diferentes níveis de adaptação a este fenômeno. Entretanto alterações no regime de fogo provocadas, principalmente, pelas ações antrópicas tem causado danos ao ecossistema. Neste bioma, o conhecimento indígena tradicional sobre o uso do fogo é de fundamental importância para se entender as relações entre os regimes de queima natural e as práticas de queima antrópica adotadas, bem como seus impactos na conservação da diversidade biológica e na manutenção dos serviços ecossistêmicos locais. A área de estudo compreende 10 (dez) TIs localizadas na porção central do estado do Maranhão caracterizadas pelo bioma Cerrado, são estas: Bacurizinho, Porquinhos, Porquinhos dos Canela Apanyekrá, Cana Brava, Kanela, Kanela/Memortumré, Lagoa Comprida, Urucu-Juruá, Rodeador e Morro Branco. Assim, a presente dissertação objetiva avaliar as consequências dos incêndios florestais no bioma Cerrado em Terras Indígenas no Maranhão. Para tanto, definiu-se os seguintes objetivos específicos: a) analisar as cicatrizes de área queimada, no período de 2001-2020, com dados do MapBiomas, relacionando-as com as classes de uso e cobertura da terra; b) discutir os padrões de recorrência espacial nas TIs baseado nas variáveis geoambientais e frequência de fogo. O procedimento metodológico para geração dos mapas de cicatrizes de área queimada e de frequência de fogo envolveu o método do MapBiomas Fogo que desenvolveu o mapeamento de cicatrizes de fogo no Brasil baseado em mosaicos de imagens dos satélites Landsat com 30 metros de resolução espacial disponíveis no catálogo do Google Earth Engine (GEE), os dados foram manipulados no software QGIs 3.20, com as Estatísticas Zonais pode-se realizar a contagem da área queimada para cada classe de uso e cobertura da terra do mesmo ano correspondente. Assim como, foi possível identificar as fisionomias que tiveram mais recorrência de fogo. Dentre os resultados destaca-se que durante o período de 2000 a 2020 foram detectadas 29.375,42 km² de áreas queimadas nas TIs. Ao verificar o percentual das cicatrizes de fogo nas fisionomias, dentro de duas décadas o padrão se manteve, crescimento e redução da área queimada entre um ou dois anos, as formações savânicas e campestres foram as fisionomias que mais queimaram. O ano de 2012 teve a maior porcentagem de área queimada da formação savânica 35,5% e no ano de 2015 a formação campestre teve o maior percentual com 33,4%. A única exceção foi no ano de 2017, a vegetação florestal queimou mais do que as outras duas fisionomias com 28,2%, ao todo foi mais de 80% de vegetação nativa queimada neste ano. As regiões sul e sudeste do território indígena concentraram-se as áreas com maiores frequências de fogo, foram 8.183 km², ou seja, 67,5% da área total queimaram ao menos uma vez. Portanto, os resultados podem contribuir com o melhor entendimento das dinâmicas de fogo na região, sua distribuição espacial e temporal, tornando possível uma análise geográfica que podem contribuir para conservação e o melhor uso dos recursos naturais em Terras Indígenas do Cerrado.