A discussão em torno das problemáticas ambientais torna-se evidente no decurso do século XX, sob a premente necessidade de abordar práticas tangíveis de enfrentamento à crise ambiental e de propostas em vistas à promoção do desenvolvimento sustentável e proteção da natureza. No entanto, reitera-se que os esforços iniciais, embora consideráveis, priorizaram a proteção da biodiversidade. Foi apenas na década de 1990, em específico, na Conferência de Malvern sobre “Conservação Geológica e Paisagística”, realizada no Reino Unido, em 1993, que emergiram as discussões sobre geodiversidade. Tais discussões assentavam-se na necessidade de debates e produções científicas sobre os elementos abióticos da Terra. Trata-se, portanto, de um termo que tem ganhado força no cenário nacional e internacional, chave essencial para compreender o passado. Nesse sentido, embora o estado do Piauí apresente produções relevantes no cenário regional e nacional, os estudos ainda não abrangem todo o território do estado. Há a ausência, também, de trabalhos que busquem relacionar as discussões sobre geodiversidade e geopatrimônio ao contexto da educação formal e informal (geoeducação), geodiversidade e cultura (geocutura) geodiversidade e turismo (geoturismo) e, mais ainda, a divulgação e popularização da geodiversidade a públicos diversos. Posto isso, tem-se a seguinte questão: “Como a geodiversidade e o geopatrimônio podem contribuir para a promoção da geoconservação, geoturismo e geoeducação no município de Boqueirão do Piauí, Brasil?” Para tanto, no sentido de preencher a lacuna evidenciada, o objetivo precípuo deste projeto é de analisar o potencial da geodiversidade e do geopatrimônio de Boqueirão do Piauí, tendo em vista subsidiar a geoconservação e a geoeducação. Para isso, realizou-se levantamento bibliográfico, coleta de dados secundários, tais como: documentos e relatórios técnicos em órgãos oficiais, seguidos de: i) pré-inventário, composto pelas etapas de definição da área de estudo e campos preliminares realizados nos dias 25 de agosto, 2 de setembro, 8 de novembro, 7 de dezembro e 20 de dezembro de 2023, efetivado em parceria com moradores locais conhecedores da região; ii) inventário dos Locais de Interesse da Geodiversidade; iii) avaliação dos Locais de Interesse da Geodiversidade: realização da avaliação qualitativa (Araújo et al. 2024); iv) avaliação quantitativa dos Locais de Interesse da Geodiversidade inventariados (GEOSSIT - Serviço Geológico do Brasil e método de avaliação geoeducacional - GEOAM); v) valorização e divulgação dos geossítios: etapa que contempla a seleção dos geossítios a serem valorizados/divulgados, o planejamento e a efetivação de ações de conservação e popularização do geopatrimônio. A partir dos resultados, aponta-se a relação da população boqueirãoense com os elementos abióticos, em particular com o rio Longá e riacho Fundo. Por conseguinte, a partir inventário realizado, foi possível identificar 12 Locais de Interesse da Geodiversidade, sendo eles: Barragens do Longá, Complexo Riacho Fundo 1 (Afloramentos do Riacho Fundo e Queda D’água do Riacho Fundo), Complexo Longá 1 (Pedra do Urubu e Paredões do Longá), Pedra da Passagem, Piscinas Naturais 1, Cânion do Funil, Pedra Arco do Triunfo, Cânion Quebra Vara, Piscinas Naturais 2, Ponte de Pedras Balsas do Longá, Mini Cânion Balsas do Longá, Complexo Riacho Fundo 2 (Pilões de Pedra e Passagem Velha). Tais locais, posteriormente foram submetidos à avaliação quantitativa, que, para a metodologia do GEOSSIT, resultou na inferência de três geossítios, a saber: Barragens do Longá, Cânion do Funil e Cânion Quebra Vara e oito sítios da geodiversidade de relevância nacional, a citar: Complexo Riacho Fundo 1, Complexo Longá 1, Pedra da Passagem, Piscinas Naturais 1, Piscinas Naturais 2, Ponte de Pedra Balsas do Longá, Mini Cânion Balsas do Longá e complexo Riacho Fundo 2 e apenas um sítio da geodiversidade com relevância regional/local - Pedra Arco do Triunfo. A partir da aplicação da metodologia GEOAM, inferiu-se que todos os locais apresentam baixa potencialidade para atividades educativas, sobretudo, pelo fato de os critérios considerarem aspectos relacionados à infraestrutura, instalações para visitantes, manutenção do local, segurança e proteção, disponibilidade de pessoal capacitado, articulação entre atividades ambientais e culturais, envolvimento das comunidades locais e ausência de gestão dos geossítios. Assim, no intuito de promover e difundir o geopatrimônio boqueirãoense, foi desenvolvido uma rota geoeducativa e elaborado uma cartilha informativa e de divulgação do geopatrimônio. À vista disso, considera-se que esta pesquisa é o ponta pé inicial para o incentivo à valorização, conservação e promoção do geopatrimônio de Boqueirão do Piauí, considerando os valores apresentados e o potencial para o desenvolvimento econômico sob perspectivas sustentáveis. Dessa forma, salienta-se que ações conjuntas e esforços entre universidades, comunidade local e gestão municipal é fundamental para a gestão e efetivação de práticas que considerem a realidade do município e que possibilitem a integração dos componentes abióticos, bióticos e culturais. Por conseguinte, entende-se que, embora não seja uma tarefa simples, a sua concretização poderá oportunizar notáveis retornos ao município e à comunidade boqueirãoense