A presente dissertação analisa o processo de estagnação socioeconômica do assentamento Bonfim, localizado no município de Barras, no estado do Piauí, à luz do conceito de reforma agrária. Parte-se da constatação de que, embora o Brasil apresente uma das maiores concentrações fundiárias do mundo e possua políticas públicas voltadas à redistribuição de terras, muitos assentamentos, como o Bonfim, não alcançaram os objetivos estabelecidos legalmente, especialmente no que se refere à promoção da justiça social, da autonomia produtiva e do desenvolvimento sustentável. Com base nesse contexto, definiu-se como objetivo geral analisar o processo que desencadeou a estagnação socioeconômica do Assentamento Bonfim, considerando a precariedade de seu desenvolvimento atual. Os objetivos específicos consistem em: (1) caracterizar a estrutura fundiária brasileira e os conflitos dela decorrentes; (2) investigar os fatores que contribuíram para a letargia do desenvolvimento socioeconômico no assentamento; e (3) examinar a realidade vivenciada pelos assentados, com ênfase na produção familiar e nas políticas públicas voltadas à sustentabilidade da comunidade. A pesquisa adotou uma abordagem qualitativa e quantitativa, com caráter descritivo e aplicado. Foram utilizados procedimentos como levantamento bibliográfico e documental, aplicação de questionários a todos os 40 chefes de família do assentamento, entrevistas semiestruturadas, observação direta, registros fotográficos e técnicas de geoprocessamento por meio do software QGIS. Os dados foram organizados em quadros, gráficos e tabelas, permitindo uma análise detalhada das condições socioeconômicas da localidade. Os resultados revelam que o assentamento Bonfim enfrenta sérias limitações estruturais, como a ausência de assistência técnica, a inexistência de projetos produtivos e a forte dependência de programas sociais. A área agrícola encontra-se desativada e grande parte dos moradores não exerce atividades relacionadas ao campo, o que evidencia uma profunda desconexão entre a posse da terra e o pleno exercício da cidadania rural. Conclui-se, portanto, que a reforma agrária, quando implementada sem políticas públicas estruturantes e contínuas, tende à estagnação. O caso do assentamento Bonfim exemplifica que a simples distribuição de terras não é suficiente para promover transformações sociais significativas no meio rural, sendo indispensável uma atuação articulada do Estado para garantir desenvolvimento, autonomia e justiça social.