O presente estudo tem como objetivo analisar o ensino dos conteúdos de Geografia, prescrito e praticado, nos grupos escolares do Piauí entre os anos 1927-1961, visando compreender a trajetória histórica desse ensino na educação Primária do Piauí. O corpus documental é constituído por mensagens governamentais, legislações educacionais, documentos da Direção da Instrução Pública e das escolas investigadas, obras literárias e autobiográficas, livros didáticos e a memória dos participantes por meio da história oral. Justificamos a relevância social dessa pesquisa para a comunidade educativa como investimento de natureza historiográfica, capaz de fornecer subsídios para a reflexão sobre o currículo e pela relevância para a comunidade científica e acadêmica como contributo para a história do ensino. Elaboramos a tese de que no período investigado os conteúdos geográficos assumiam uma perspectiva nacionalista, tornando-se veículo para atender aos anseios de valorização do País por meio de um ensino que enfatizava a enumeração e a descrição das riquezas naturais, a memorização da localização e denominação das principais cidades, dos estados brasileiros e de suas respectivas capitais, vinculando-se dessa forma à perspectiva da Geografia Tradicional. O estudo tem embasamento teórico na Nova História Cultural com instrumental de pesquisa ancorado nas proposições teórico-metodológicas de André Chervel (1990) em interface com Goodson (1990) e com abordagem da História das Disciplinas Escolares como campo historiográfico. Para efetivação da pesquisa estamos realizando visitas ao Arquivo Público do Estado do Piauí “Casa Anísio Brito,” aos arquivos escolares da Secretaria de Educação do Estado do Piauí, dos grupos escolares e da Escola Normal de Teresina para levantamento e organização das fontes. Para a análise das fontes documentais, das fontes orais e de outras fontes constituintes de memória como obras autobiográficas, adotamos o método de interpretação da dimensão linguística processada pela via hermenêutica proposta por Escolano Benito (2017). O aporte conceitual da pesquisa como estratégias e táticas, código disciplinar, culturas política, acadêmica e empírica, encontram sustentação respectivamente em Chartier (1990; 1992), Viñao (2008) e Escolano Benito(2017). Além desse referencial a pesquisa está ancorada na historiografia educacional a exemplo de Lopes (1996, 2001, 2002), Queiroz (2008), Brito (1996), Martins (2009, 2011), Sousa (2009), Soares (2008), Souza (2004), Ribeiro (2000, 2003, 2008), Carvalho (1994), dentre outros. O recorte cronológico inicia-se em 1927, data de adoção do Programa do Ensino Primário para a escola primária piauiense, implantado pelo reformador da educação parnaibana, Luis Galhanone. Estende-se até 1961, data de promulgação da primeira LDBN Nº 4.024/61. Percebemos, até o momento, que no período enfocado ocorreram importantes transformações na estrutura organizacional e curricular da instrução primária do Estado perpassando-se nos discursos a possibilidade da concretização do seu projeto de modernização, observando-se não somente a melhoria das suas instalações físicas, mas, sobretudo, os princípios pedagógicos da modernidade. Nessa temporalidade foram adotados dois programas de ensino como referencial curricular prescrito para normatizar a prática docente nos grupos escolares do Piauí, o “Programa do Ensino Primário”, adotado em 1928 e o “Programa Experimental do Curso Primário”, publicado em 1960. Apesar das importantes transformações, no ensino dos conteúdos de Geografia, predominavam os métodos tradicionais, conforme a tese elaborada para essa pesquisa.