No contexto do Brasil como sociedade com problemas de racismo, sexismo e tantas outras formas de discriminações, ser mulher afrodescendente força a pessoa para enfrentar desafios em relação ao seu pertencimento de gênero, raça e classe. Deste modo, a mulher brasileira afrodescendente continua sendo a pessoa mais discriminada no Brasil. Diante desta situação histórica, algumas destas mulheres conseguem se organizar em grupos e desenvolver atividades sociais e culturais que servem de fontes educativas onde elas ensinam e aprendem ao mesmo tempo. Nesse sentindo, houve uma necessidade de conhecer mais sobre esta realidade, através de respostas às questões com referências a como elas se organizam, quais as atividades desenvolvidas e quais as possíveis consequências destes esforços e interrelações. Com a pesquisa intitulada “Resistências de mulheres afrodescendentes organizadas: o que ensinamos e aprendemos em espaços não escolares?” a pesquisadora investigou o que fazem alguns grupos organizados para viabilizar construção de saberes e aprendizagens em torno das identidades de gênero-raça-classe, o que ensinam atividades, programas, engajamentos destes grupos e quais as suas contribuições para as pessoas do grupo, em particular, participantes deste estudo. Essas implicações consistiram na seguinte questão: O que ensinam e aprendem algumas mulheres brasileiras organizadas em torno dos fatores de gênero-raça-classe na sociedade brasileira? Esse questionamento nos levou ao objetivo geral da pesquisa que constituiu em compreender as lições trabalhadas (ensinadas e aprendidas) nas/pelas atividades desenvolvidas por mulheres brasileiras afrodescendentes organizadas em grupos. Definimos os objetivos específicos em termos de descrever as atividades desenvolvidas por algumas mulheres brasileiras afrodescendentes organizadas em grupos; conhecer como as integrantes definem/descrevem as suas identidades interseccionais de gênero- raça-classe para poder identificar a partir das narrativas o que ensinam e aprendem estas mulheres brasileiras afrodescendentes organizadas sobre elas mesmas e a sua sociedade. A metodologia compreendeu uma abordagem qualitativa envolvendo práticas descritivas. Estabelecemos os perfis das participantes deste estudo, três mulheres brasileiras afrodescendentes autodeclaradas que participam de grupos organizados. Com as mesmas, desenvolvemos entrevistas semiestruturada, fizemos observação livre, anotações em campo e descrições destas experiências. Utilizamos elementos da pré-análise com base na análise de conteúdo de Bardin (2016) para uma primeira exploração do material metodológico e trabalhamos com inspiração na análise dialógica de Spink (2014) para análise e interpretação do material. As discussões dos temas deste estudo foram feitas a partir das contribuições de Ana Beatriz S. Gomes (2015); Alonso (2009); Arroyo (2003); Boakari (1994, 2016); bell hooks (2005); Brandão (2007, 2012); Gohn (2000, 2011); Gomes (2017); Fanon (2005, 2008) Freire (2000, 1999, 1987); Ribeiro (2018); Santos (2010); dentre outras/os. Este estudo revela algumas possibilidades para pensar nas resistências de mulheres afrodescendentes organizadas como experiências de aprendizagens sobre raça-gênero-classe.