A formação em Odontologia, desde sua institucionalização até os dias atuais, tem testemunhado transformações na sua prática educativa, de mutiladora à restauradora; de curativa à preventiva; de um olhar exclusivo para a doença à promoção da saúde; da boca como foco ao indivíduo no centro do cuidado. Esse movimento está em curso, influenciado pela implantação de políticas públicas em saúde e educação como, por exemplo, a criação do Sistema Único de Saúde e as Diretrizes Curriculares Nacionais, respectivamente, nas quais o indivíduo e a coletividade ocupam um lugar central nos processos de cuidado e na formação em saúde. Defende-se a tese de que os territórios das práticas em Saúde Bucal Coletiva (SBC), a comunidade e as pessoas que nela habitam, são indutores de mudança da formação em Odontologia. O ensino-aprendizagem baseado na comunidade é potente e apresenta-se em práticas educativas que não se limitam à boca ou ao domínio de técnicas operatórias. Assim, o objetivo desse trabalho foi analisar a influência do encontro universidade-comunidade no processo de ensino-aprendizagem em SBC na formação em Odontologia na Universidade Federal do Piauí. O estudo contou com a contribuição de Botazzo (2006, 2013, 2016), Campos (2000, 2005) e Merhy (2003, 2013, 2014) na delimitação de um território de saberes e práticas em SBC. Corazza (2013), Gallo (2008), Larrosa (2004, 2015) e outros orientaram os estudos sobre prática educativa. Trata-se de uma pesquisa qualitativa com abordagem sociopoética, fundamentada em cinco princípios: formação do grupo-pesquisador; valorização dos saberes dos participantes do estudo – chamados de copesquisadores; pesquisa com o corpo todo; utilização de técnicas artísticas para produção dos dados; e reafirmação da coautoria dos participantes e partilha sensível dos resultados da investigação (ADAD, 2010, 2011, 2014; GAUTHIER, 1999, 2005, 2010, 2012). Oito jovens graduandos em Odontologia participaram como copesquisadores, reunidos em torno da participação em um curso de extensão, o qual foi decisivo para a formação do grupo-pesquisador. A produção dos dados se deu em oficina sociopoética com a aplicação da técnica “Inutilezas do percurso”, seguida pela produção artística e pelos relatos das produções. Os dados foram analisados em quatro fases: análise plástica das imagens; categorização e classificação dos relatos orais; estudos transversais e contra-análise, resultando em duas dimensões do pensamento do grupo-pesquisador: a prática educativa do fora e a insuficiência da clínica dentária na formação do cirurgião-dentista. Na primeira, observou-se os confetos (conceitos + afetos): ensino-aprendizagem-sair-do-lugar, ensino-aprendizagem-percurso-ponte, ensino-aprendizagem estrada-gratidão-caminho-que-vale-a-pena, pessoas-caminho, comunidade-estrada, empecilhos-ventos-fortes, caminho-ziguezague, dificuldade-labirinto-poço, obstáculo-pedra. Os confetos que constituíram a segunda dimensão foram: lugar-outro-do-ensino-aprendizagem, peculiaridade-coisa-da-gente, ensino-aprendizagem-robótico, ensino-aprendizagem-limitado, ensino-aprendizagem-egoísta e ensino-aprendizagem-SG5 e SG10. O grupo-pesquisador apresentou a comunidade como o centro do processo de ensino-aprendizagem em SBC e o motivo de existir das práticas educativas nos cenários de formação do cirurgião-dentista.