RESUMO
A presente pesquisa situa-se no campo da história da educação e aborda a especificidade dos cursos de jornalismo no Piauí. O ponto de partida é a seguinte questão-problema: como as práticas educativas e os processos de formação docente articulam-se na história e memória dos cursos de jornalismo do Piauí? Tem por objetivo geral historiar os cursos de jornalismo do Piauí, a partir de narrativas memorialísticas sobre práticas educativas e processos de formação docente. De forma específica, propõe-se a: 1. descrever as práticas educativas na história e memória dos cursos públicos de jornalismo nesse estado (1984-2021); 2. verificar como se deram os processos formativos nas trajetórias de vida de professores de jornalismo que atuam ou atuaram no território piauiense de 1984 a 2021; 3. compreender as implicações da formação docente nas suas práticas educativas para o processo de consolidação dos cursos; 4. relacionar as trajetórias formativas de professores-jornalistas com as práticas educativas na história e memória dos cursos. A tese levantada é de que as práticas educativas e a formação docente articularam-se na história e memória dos bacharelados em jornalismo do Piauí na medida em que as trajetórias desses cursos se relacionam às trajetórias formativas dos professores, dos investimentos e construções pessoais e profissionais ao processo de consolidação do campo científico pela cotransformação das pessoas e das práticas. Para o desenvolvimento do trabalho, as categorias teóricas estão centradas, principalmente, na história cultural, pautada em Peter Burke (1992, 2008), Roger Chartier (2002, 2017), Jacques Le Goff (2013) e Michel de Certeau (2017); nas práticas educativas, pelas contribuições de Karel Kosik (2002), Adolfo Sánchez Vásquez (2007), Epitácio Macário (2013), Demerval Saviani (2015), Paulo Freire (2005, 2013, 2015, 2016, 2019), Celso Antunes (2014), José Carlos Libâneo (2011, 2012); e na formação docente, a partir das contribuições de Francisco Ibernón (2016), José Augusto Pacheco e Maria Assunção Flores (1999), Maurice Tardif (2014) e António Nóvoa (1995). Já as categorias metodológicas são: história oral, com Walter Benjamim (1987), Paul Thompson (2002), José Carlos Sebe B. Meihy (2013) e Verena Alberti (2013, 2019), principalmente; e história de vida, com António Nóvoa (1995), Michael Huberman (1995), Maria da Conceição Moita (1995) e Maria Helena Menna Barreto Abrahão (2004). Trata-se de uma pesquisa narrativa, de campo e documental, em níveis descritivo e explicativo, com abordagem qualitativa. O processo de produção de dados está dividido em duas etapas: história oral temática, momento em que foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 12 colaboradores; e história oral de vida de seis professores de jornalismo, a partir de entrevistas biográficas, roda e registro (WARSCHAUER, 2017a; 2017b; 2017c). Para interpretação e tratamento dos dados da pesquisa, utiliza-se a análise cruzada, de Paul Thompson (2002), e a análise de conteúdo categorial, de Laurence Bardin (2016). Através das narrativas orais pôde-se conhecer aspectos memorialísticos que caracterizam a história dos cursos de jornalismo no Piauí, entendendo suas fases e transmutações correlacionadas à formação docente e às suas práticas educativas, desde a criação do primeiro curso até a contemporaneidade. Assim, a análise de vestígios de memórias aponta a confirmação da tese. A formação continuada em programas de pós-graduação, após o ingresso na docência, transforma os professores e, consequentemente, suas práticas educativas. Além do ensino, os cursos passam a desenvolver pesquisas, dando uma nova feição à formação em jornalismo, com desenvolvimento do caráter científico. O crescimento da produção intelectual piauiense sobre a comunicação e o jornalismo, mediante olhares centrados nos fenômenos regionais, está relacionado ao desenvolvimento dos intelectuais, especialmente como resultado do processo de formação continuada em cursos de mestrado e doutorado.