Arbovírus são vírus transmitidos por vetores artrópodes hematófagos que podem causar doenças em animais e seres humanos. Dengue virus (DENV) é um arbovírus que se encontra mundiamente distribuído e no Brasil, circula de forma endêmica desde a década de 80. A ocorrência de surtos anuais tem sido facilitada pela co-circulação dos quatro sorotipos (DENV1-4) em vários municípios. Mais preocupante ainda, é que grande parte das infecções são assintomáticas e quando sintomáticas, podem evoluir com manifestações hemorrágicas ou neurológicas fatais. Adicionalmente, outros arbovírus como Chikungunya virus (CHIKV) e Mayaro virus (MAYV) estão emergindo de forma alarmante em diversas regiões brasileiras. O primeiro, foi inserido no Brasil em 2014 e desde então disseminou-se rapidamente por vários estados, causando surtos e epidemias de uma doença debilitante que cursa com intensa e duradoura artralgia. Já MAYV, apresenta-se prevalente na região Norte e vem se destacando pelo aumento da incidência em áreas não endêmicas, com sintomas semelhantes aos ocasionados por CHIKV. Estas arboviroses representam um sério desafio à saúde pública, pois podem ser transmitidas por mosquitos antropofílicos do gênero Aedes, que estão amplamente distribuídos em áreas urbanas e peri-urbanas. Além disso, as manifestações clínicas apresentadas pelos pacientes podem ser agravadas em casos de co-infecções (entre arbovírus) ou na presença de outras comorbidades, dificultando tanto o diagnóstico diferencial como as ações de vigilância em saúde associadas ao monitoramento e controle dos surtos. Diante do aumento no número de casos, este estudo objetivou investigar a dinâmica de circulação dos arbovírus Dengue virus, Chikungunya virus e Mayaro virus no Estado do Piauí nos anos de 2016 e 2017. Foram coletadas 578 amostras de soro de pacientes com suspeita de infecção por arbovírus. Destas, 115 foram extraídas e analisadas através da técnica de RT-PCR, utilizando iniciadores que amplificam a região dos genes que codificam as glicoproteínas NS5 de DENV, E1 e E2 de CHIKV e E1, E2 e E3 de MAYV. Do total de amostras testadas, três foram positivas para detecção de DENV, sendo possível identificar os sorotipos DENV-2 e DENV-4. Um paciente apresentou-se co-infectado por DENV-1 e CHIKV. Por outro lado, 32 amostras foram positivas para detecção de CHIKV, indicando a circulação e disseminação crescente deste vírus no estado. Uma amostra foi positiva para MAYV, sugerindo possível infecção por este arbovírus. A partir destes resultados, treze amostras foram enviadas para o sequenciamento parcial dos genes E1 e E2 de CHIKV para confirmação da circulação. A análise filogenética revelou que a linhagem circulante no Piauí pertence ao genótipo do Oeste-Central-Sul Africano (ECSA), que foi introduzido no Brasil em 2014 através do estado da Bahia. Adicionalmente, observamos que os vírus isolados neste estudo se agruparam com outros isolados brasileiros da região Nordeste. O monitoramento clínico de pacientes acometidos por CHIKV mostrou que 14 dos 32 pacientes positivos evoluíram para a fase crônica, apresentando sintomas cuja duração variou de 4 a 12 meses. Em conjunto, estes dados poderão auxiliar a vigilância epidemiológica a traçar estratégias eficazes de monitoramento da circulação viral e controle vetorial, na tentativa de prevenir futuras epidemias arbovirais na população piauiense.