A presente proposta investigativa tem como escopo pensar o elemento agonístico contido nos primeiros escritos do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), a saber: A visão dionisíaca do mundo (1870), Os cinco prefácios para cinco livros não escritos (1872) e O Nascimento da Tragédia (1872); assim como outros textos do autor que se façam necessários. O conceito de agón como força singular que impulsiona o fazer filosófico é, na filosofia nietzschiana, um termo ímpar, pois propõe rupturas e fissuras no próprio ato de pensar, postura esta, por vezes, extremamente radical com a tradição filosófica: como a ideia de verdade tão cultuada pelos pensadores clássicos da filosofia que encontra em Nietzsche uma leitura diferente. Para tanto, o agón será tratado como um conceito aberto exatamente por sua natureza polissêmica, eixo de fundamental importância nos escritos nietzschianos de juventude, mas que utilizaremos no sentido de disputa ligada ao embate de ideias. Seguindo esse fio interpretativo, apontaremos para o efeito trágico contido na dicotomia apolíneo/dionisíaco, tão cara ao autor. Acreditamos que já no jovem Nietzsche há, mesmo que de forma embrionária, a força criativa que tem a estética como vetor para sua produção filosófica vindoura. A filosofia nietzschiana tem como finalidade uma proposta afirmativa da vida e encontra na arte uma ferramenta fundamental para realizar esse intento. Como sabemos, o Nascimento da tragédia é uma obra amplamente debatida e nela podemos notar lampejos da produção posterior do filósofo. O devir nietzschiano confunde-se, em nosso modo de ver, com o próprio agón, posto que a mudança, o vir a ser constante é sua marca, e compreender como ele se manifesta em seus primeiros escritos é o alicerce de nossa proposta. A ideia de afirmação da vida, de modo positivo, passa pela crítica e pelo conflito, e o perspectivismo nietzschiano nos fornece o respaldo necessário para se pensar qual a relação entre o projeto trágico do autor e o agón como devir. No pensamento nietzschiano e na própria filosofia esse elemento é fundante e indispensável como procedimento crítico, posto que é a partir do choque que emerge o novo, que o conflito é salutar quando relacionado como a grande saúde em Nietzsche. Entendemos que pensar o jovem Nietzsche e o seu modo de fazer filosofia tem como norte a afirmação da vida ante as forças degenerativas, que este tanto critica em obras posteriores.