Nossa proposta consiste em fazer uma análise crítica a respeito do uso metodológico da “heurística do temor” na aplicação da ética da responsabilidade proposta pelo filósofo alemão Hans Jonas. Para cumprimento de nossa tarefa, no corpus deste trabalho, e seguindo o movimento feito por Jonas, traremos para nossa discussão o problema da técnica a partir da modernidade como pano de fundo do debate ético levantado pelo autor, o qual chama atenção aos efeitos cumulativos ambivalentes da técnica moderna que coloca em risco não apenas a vida humana, mas ela em sua totalidade e também sua continuidade. A constatação da insuficiência das éticas tradicionais vigentes, nesse novo contexto tecnológico, traz à tona a necessidade de um novo agir que deve levar em conta todas as esferas da vida, não somente no presente, mas também no futuro, pois a vida é um fim em si mesma que deve ser valorizada, e a valorização da vida exige não que o humano ou o não-humano tenha a primazia, mas a própria vida como fenômeno. Assim, a partir do diagnóstico de que a possibilidade da negação da vida emergiu graças à magnitude do poderio da técnica moderna, e que ética alguma vigente é capaz de lidar com essa nova situação, será dado ênfase ao conceito da responsabilidade como fundamental para a compreensão e formatação de uma nova proposta ética que seja favorável à permanência da vida no planeta, pois responsabilidade é princípio fundamental e determinante de uma ética de afirmação da vida. Então, ao final, será elaborada uma discussão crítica em torno do conceito “heurística do temor” usado por Jonas como principal método na aplicação de seu novo tractatus technologico-ethicus para uma civilização tecnológica, na intenção de verificar se de fato o sentimento do temor consiste numa boa opção para evocar a responsabilidade.