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Banca de DEFESA: RAFAEL PINHEIRO DOS SANTOS

Uma banca de DEFESA de MESTRADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE: RAFAEL PINHEIRO DOS SANTOS
DATA: 15/05/2024
HORA: 14:00
LOCAL: https://meet.google.com/iuj-wawe-asn
TÍTULO: Cartografia dos processos de subjetivação e enunciação em grupos de arte e saúde mental de pessoas com sofrimento psíquico
PALAVRAS-CHAVES: Saúde Mental, Atenção Psicossocial, Rede, Luta Antimanicomial, Esquizodrama.
PÁGINAS: 167
GRANDE ÁREA: Ciências Humanas
ÁREA: Psicologia
RESUMO:

Introdução: Apesar da transformações que tivemos no modelo da assistência em saúde mental e dos avanços na garantia de direitos das pessoas com transtornos mentais, regulamentados a partir da Lei 10.2016, de abril de 2001, a atenção psicossocial, no Brasil, vem sofrendo vários sucateamentos, dificultando cada vez mais o uso de ferramentas potentes como a arte no tratamento das pessoas com sofrimento psíquico grave, seja este tratamento institucionalizado nos Centro de Atenção Psicossociais (CAPS), ou na Atenção Básica (AB), nos centros de convivência, e principalmente nos Pontos de Cultura. Esses espaços, em alguns estados e em momentos anteriores ao início do processo de sucateamento das políticas de saúde mental (Yasui, 2019), eram marcados por atividades com arte ou pela presença de vários profissionais da arte-terapia, potencializando o objetivo de aliar a arte ao cuidado das pessoas com sofrimento psíquico (Galvanese et al, 2016). Como sabemos, a arte associada à afirmação da vida e a movimentos antimanicomiais ao longo da história, tem sido concebida enquanto criação e invenção de mundos finitos e infinitos e mediação das relações humanas que possibilitam novos modos de existência, potencializando também formas de resistência ao maquinário opressor dos nossos desejos. No Brasil, não só a Semana da Arte Moderna de 22 é um momento importante para compreender a mudança de paradigma, com também a psiquiatra Nise da Silveira e Arthur Bispo do Rosários com sua arte bruta são personagens centrais para que possamos entender a arte enquanto ferramenta de cuidado às pessoas com transtornos mentais (Frayze-Pereira, 2003; Weinreb, 2002). Corroborando essa perspectiva, em seus movimentos despsicologizantes, Lygia Clark utilizava o conceito de arte e a prática com objetos relacionais como forma de descoberta de novas sensações, novas subjetividades em seus pacientes (Rolnik, 2002). Não só quando utilizada como uma necessária ferramenta de intervenção, também quando experimentada nos contextos da vida cotidiana, a arte é sentida também como um processo de produção de saúde, pois arte também é o cuidar de si, é o produzir de sensações e subjetividade (Cruz Santos et al, 2021). Amarante & Torre (2018) apontam que frentes inovadoras como arte-cultura objetivam enfrentar e superar o estigma manicomial de enclausuramento e exclusão, e que a ocupação dos espaços da cidade por meio da arte é um processo vivo de invenção de saúde. Dito isto, este estudo parte de uma experiência de um período de dez anos de atuação em serviço da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) da cidade de Parnaíba, localizada no litoral do Piauí, ao Nordeste do Brasil, considerando que as vivências percebidas e as experimentações de outras vivências foram disparadoras e reveladoras para que eu pudesse começar a ampliar meu olhar acerca de como a arte é caminho vitalizador para processos de descoberta e de singularização, além de observar que a rede de suporte em saúde mental para os usuários é bem maior que o território físico de um serviço institucional. Essa prerrogativa é reforçada com o fato de que a atenção de base comunitária em relação às demandas de saúde mental na cidade de Parnaíba sempre foi um trabalho tímido ou quase nulo. O CAPS II, inaugurado em 2010, é visto como um importante ponto da rede de atenção psicossocial, mas, que historicamente, vem se constituindo um serviço muito institucionalizado com a grande maioria de suas ações acontecendo entre os muros do serviço. Com o surgimento da pandemia de Covid-19 e a chegada do coronavírus no Brasil, em 2020, o CAPS II se tornou parte de um processo de mínimo suporte para esses usuários e usuárias na cidade de Parnaíba, transformando-se, praticamente, em um serviço ambulatorial. A Covid me fez perceber que as ferramentas que usuários deste serviço dispunham, antes da pandemia, para manejar o cuidado de si estavam restritas ao serviço institucional; carecendo, assim, de redes de cuidado para dirimir o sofrimento psíquico. Os dias seguidos de minha atuação profissional no serviço durante a pandemia refletiram em uma noção de impotência e limitações em promover processos de cuidados em saúde. Essas e outras enunciações me atentaram a buscar responder questionamentos produzidos nessa minha caminhada: é possível construir, apresentar e /ou ampliar uma rede de suporte mútuo entre os participantes para além do serviço instituído? Como promover processos de desterritorialização e produção de novas subjetividades a partir da arte enquanto afirmação de um modo de vida? São essas direções que me guiam nos primeiros passos implicados neste projeto de pesquisa até os dias atuais, nos quais passeamos pelas vivências de pessoas com sofrimento psíquico enquanto participantes de encontros envolvendo a arte e objetos relacionais da arte como dispositivos de mediação do cuidado na cidade de Parnaíba. Para pensar essas questões e ampliar a discussão, traçamos os seguintes Objetivos: a) cartografar processos de subjetivação e enunciação em grupos de arte e saúde mental de pessoas com sofrimento psíquico; b) mapear processos de subjetivação em andanças de pessoas com sofrimento psíquico pela cidade; c) analisar processos de (des)territorialização em arte e saúde mental de pessoas com sofrimento psíquico. Pontuo aqui a escolha da cartografia enquanto método de pesquisa e sua perspectiva ético-estético-política, ou seja, modo de fazer pesquisa que envolve cuidado, produção criativa e fiação. Quero encarnar a pesquisa, mapeando a criação e as transformações do campo, acompanhando os processos de subjetivação, pois a aposta é transformar para conhecer, logo todo ato de pesquisar é transformador. Trata-se da construção de um percurso que começa do meu caminhar enquanto mediador de grupos de arte na atenção psicossocial até meu escrever, pois acredito estar produzindo uma pesquisa com os participantes e não sobre eles. As ferramentas e conceitos da Análise Institucional e da Esquizoanálise serão suportes desta cartografia e para a discussão dos analisadores que emergem como matéria de expressão dos processos de subjetivação e enunciação. A contribuição da Análise Institucional para os estudos na área da atenção psicossocial traz a importância de intervenções nas ações de saúde mental, promovendo um movimento de desinstitucionalização de pessoas com sofrimento psíquico, e que intervenções extramuro atuam nesse processo de desospitalização de sujeitos institucionalizados (Freire, Fontenele & Silveira, 2019). A Esquizoanálise como corrente analisadora deste estudo reconhece a loucura como uma forma de existência e nos oferece suporte para uma cartografia de linhas, de processos (des)territorializantes, uma conversação entre linhas segmentadas e linhas rizomáticas e os devires enquanto fenômenos de transformação desses sujeitos (Deleuze & Guattari, 2012). Na escuta e convivência com os participantes procuro perceber que mundos cada uma e cada um carrega consigo, que histórias são contadas, que singularizações e (des)territorializações são produzidas. A partir desse ponto umbilical de (des)territorialização é que o mundo se constitui, que os processos de subjetivação se configuram (Guattari, 2012). Outra ferramenta metodológica é o diário cartográfico como dispositivo de implicação para o pesquisar. É uma peça-chave do processo metodológico da pesquisa e da análise das informações, pois é neste material que encontro os meus sinais de afetação e implicação. Para permitir esse processo, oito participantes caminham e produzem juntos e juntas comigo. São usuários e usuárias do Centro de Atenção Psicossocial II Walterdes Sampaio; vidas que diariamente precisam enfrentar todo o maquinário de opressão e encaixe manicomial e não permitir que suas subjetividades sejam aprisionadas em territórios despersonalizados. A intencionalidade dos encontros não se configura exclusivamente com o uso dos objetos relacionais da arte (Tenda do Conto; Exposição de fotografias; bordados em crochê ou ponto cruz; Rodas de conversa; Esquizodrama, e a Esquizodança), já que outros momentos de tecitura dessas relações e dessa rede de afetos estão se dando a partir de passeios sugeridos, como um café coletivo, ou exposições em feirinhas, pescaria em grupo, debate com alunos universitários. O que importa mais aqui, já que os lugares de encontros pela cidade também importam, é o encontro, é o desejo enquanto produção, é a desterritorialização, é a luta contra os manicômios existenciais e a produção de vida enquanto produção de saúde. As primeiras impressões desses encontros vitais nos levam a apostar na possibilidade dos seguintes resultados: a) promoção de dispositivos relacionada aos processos de cuidado em saúde mental, já que a pesquisa, apesar de ter que caminhar para um fim enquanto critério metodológico, pretende continuar viva, representada por uma teia de conexões e relações rizomáticas entre os participantes mesmo após o encerramento dos encontros; b) processos de desinstitucionalização de sujeitos com o uso dos objetos relacionais da arte; c) estabelecimento/reconhecimento de novas políticas de amizade, novas redes de apoio, suporte afetivo dos sujeitos. Portanto, as inúmeras possibilidades da pesquisa enquanto intervenção para o cuidado terapêutico nos apresentam inventividades que estão diretamente associadas ao uso da arte relacional enquanto proposta de cuidado com as pessoas que são acometidas por um sofrimento psíquico. Seja a literatura e a poesia, a dança, a música, o teatro e o cinema que com seu exercício estético, possibilitando performances dos modos de ser e existir, seja a Tenda do Conto como possibilidade de construção de novas subjetividades, seja a arte como uma forma de resistência aos processos psiquiatrizantes como afirmação de uma vida potente e libertadora.


MEMBROS DA BANCA:
Externo à Instituição - ANA KARENINA DE MELO AARAES AMORIM - UFRN
Presidente - 2231565 - ANTONIO VLADIMIR FELIX DA SILVA
Interno - 1402780 - GUILHERME AUGUSTO SOUZA PRADO
Notícia cadastrada em: 06/05/2024 13:56
SIGAA | Superintendência de Tecnologia da Informação - STI/UFPI - (86) 3215-1124 | © UFRN | sigjb04.ufpi.br.instancia1 31/10/2024 22:27