Introdução: A colonização, que resultou na invasão dos territórios dos povos originários e no sequestro, tráfico e escravização de milhões de africanos, também marca a resistência desses mesmos povos, especialmente, os da diáspora africana. E uma das expressões mais fortes dessa resistência entre os africanos escravizados e os negros aqui nascidos foram, inicialmente, a formação de quilombos e, posteriormente, a existência de territórios tradicionais de povos remanescentes de quilombos. Estes são temas que aparecerão neste trabalho. A presente pesquisa trata-se de uma cartografia construída com a participação de mulheres negras quilombolas da comunidade das Queimadas em Crateús, no Ceará (CE), sobre o processo de luta pela terra. Utilizamos a seguinte pergunta problematizadora para nos guiar: como se apresenta o processo do devir-mulher-quilombola em mulheres negras na luta pela terra na comunidade das Queimadas em Crateús-CE? O objetivo do trabalho é cartografar processos de subjetivação e enunciação de mulheres na luta pela terra na comunidade das Queimadas. Nos caminhos metodológicos optamos pela pesquisa cartográfica, que se propõe a uma pesquisa-intervenção, e nos propomos também a uma construção científica feminista decolonial. A construção do conhecimento deu-se através da observação participativa, com rodas de conversa, entrevistas semiestruturadas com três mulheres e a realização de quatro encontros com o coletivo de mulheres em forma de Círculos de Cultura como ferramenta para o processo cartográfico. A análise dos processos de subjetivação parte de uma perspectiva esquizoanalítica, considerando os enunciados analisadores e as afetações produzidas do/no encontro com as mulheres quilombolas, cuja discussão expressa os deslocamentos da pesquisadora perante a imersão na comunidade em seus processos de reconhecimento e devir-mulher-quilombola. Resultados: a produção de subjetividade das mulheres quilombolas está marcada pelos elementos do dispositivo da racialidade que coexistem com a resistência às violências e a luta pelo reconhecimento do corpo-território-quilombola, de modo que emergem como expressão dos processos de subjetivação o trabalho árduo, a memória dos troncos velhos, a luta pela titulação da terra, o luto pelas perdas, a dor, o sofrimento ético-político, o cuidado individual e coletivo. Tudo isso perpassado por uma multiplicidade de devir-mulher-quilombola.