O implante coclear tem produzido, tanto no meio acadêmico quanto em diversos setores sociais, discussões quanto à sua eficácia, sua importância e, principalmente, quanto à sua utilização enquanto instrumento de poder produzido por sua aceitação ou por sua total recusa. Quando veiculada pelos diferentes meios de comunicação, a discussão sobre o IC ganha proporções nacionais. Dessa forma, procuramos, sob o viés da análise de discurso pecheuxtiana, compreender os efeitos de sentido produzidos pela veiculação do discurso sobre o IC pela Rede Globo de televisão através de seus programas matinais destinados, em geral, à mulher, a quem é delegada, com base no imaginário coletivo, a responsabilidade pelo cuidado e educação dos filhos, principalmente quando estes têm alguma deficiência, cabendo, portanto, a ela a estabilização dos embates acerca dos discursos sobre a surdez, sobre fazer ou não a cirurgia de IC. Selecionamos para a constituição de nosso arquivo oito programas veiculados entre os anos de 2009 e 2016. Dada a necessidade do ir-e-vir constante entre a teoria e o arquivo, fez-se necessário discutir ainda sobre a divulgação do discurso cientifico e sobre questões voltadas ao silêncio/apagamento propostas por Eni Orlandi que, ao lado de Pêcheux, tratam-se dos principais autores que fundamentam este trabalho. A partir da análise de nosso material constatamos que os discursos são proferidos a partir de um lugar que produz sentidos que validam o IC e silenciam a possibilidade de dizer algo em contrário, tal como levantar-se todas as adversidades advindas da cirurgia ou, por exemplo, assumir-se como possibilidade o uso da Libras para a comunicação dos surdos com o mundo.